A crise na Nissan também serve para entendermos a situação atual do Yokohama F. Marinos e porque parece que o City Football Group, embora minoritário, começa a ter cada vez mais espaço no clube.

Por: Matheus Braga (J.League Insider)
A fase atual do Yokohama F. Marinos é algo que intriga os fãs do futebol japonês e até mesmo aqueles que acompanham o futebol asiático. A equipe de Kanagawa foi campeã da J.League em 2022, vice-campeã nacional em 2023 e vice-campeã asiática em 2024. Como, em apenas 3 anos, essa equipe agora é lanterna da J.League 2025?
Já falamos aqui na nossa coluna como a diretoria atual do Yokohama F. Marinos errou em demais nas escolhas feitas para a comissão técnica desde a saída de Kevin Muscat, ao final de 2023. Foram 4 treinadores em apenas dois meses, sendo que nenhum deles é japonês. Essa indefinição, somada a contratações fracas para o elenco, colocaram um fim à grande fase do Marinos.
No entanto, outros fatores externos podem ser usados para explicar a crise no Yokohama F. Marinos. Entre eles, sem dúvida alguma, a crise na Nissan é um que deve ser olhado de perto e que pode explicar, ou até mesmo apontar, como o clube de Kanagawa vai seguir.
O Portal Mirai divulgou, recentemente, como uma das maiores montadoras japonesas enfrenta uma grande crise. O ano fiscal de 2024, registrou um prejuízo recorde para a Nissan, que deve reduzir cerca de 15% do efetivo ao redor do mundo.
Como já é de conhecimento do amante do futebol japonês, a Nissan é a empresa-mãe do Yokohama F. Marinos e ainda detém 80% das ações do clube, enquanto 20% estão com o City Football Group, holding esportiva que detém clubes como o Manchester City e o Bahia.
A crise da Nissan, com certeza abriu espaço para que o grupo City ganhasse cada vez mais poder dentro do Yokohama F. Marinos, já que o clube não é o ‘pertence’ que gera mais lucro à Nissan e, por conta disso, deve ser o primeiro ‘descarte’ da empresa. Neste vácuo de poder, o City começa a entrar em cena.
As holdings esportivas estão cada vez em evidência, não só pelo momento que vivem os clubes brasileiros se tornando SAF, mas também com os clubes de todo o mundo começando a entender os benefícios e os malefícios de fazer parte deste grupo.
Vamos usar dois exemplos atuais e com bastante repercussão no Brasil. O Eagle Football Group, de John Textor, parece ter piorado a situação financeira do Lyon, que não consegue mais realizar contratações e corre risco de ser rebaixado na França, mesmo sendo o clube principal da holding, que tirou Thiago Almada do Botafogo.
Enquanto isso, dentro da própria Eagle, o Botafogo foi “obrigado” a se desfazer de uma das suas principais peças, justamente Almada, para o bem do clube principal, o Lyon, e não recebeu um centavo por essa perda. Claro que o botafoguense agradece o Brasileirão e a Libertadores do ano passado, mas será que este modelo é saudável?
Dentro do próprio City Group temos este questionamento. Diferente de John Textor, a holding dos Emirados Árabes Unidos está presente no mundo inteiro (exceto na África) e possui seus “prediletos” e seus “laboratórios”.
Dentro da Europa, por exemplo, o City prioriza o Manchester City e o Girona, enquanto clubes como o Troyes seguem afastados das glórias e servindo apenas como laboratório de treinadores e ponte para, supostamente, burlar o fair play financeiro.
No caso do clube francês, vemos uma torcida que, a cada jogo, pede a saída do City do clube. Em 2022/23, o clube foi rebaixado da Ligue 1 na 19ª colocação, com apenas 4 vitórias. No ano seguinte, foi rebaixado na Ligue 2, mas a falência do Bordeaux ‘salvou’ o Troyes da queda.
Curiosamente, o clube contava com um grande jogador registrado pelo Troyes, mas que não jogava na França. Um ponta direita brasileiro que se destacou demais atuando pelo 3º colocado de La Liga, Savinho estava emprestado ao Girona, enquanto seu clube oficial, o Troyes, estava caindo mais uma vez. Mas o desempenho não foi em vão, já que o Troyes vendeu Savinho por 25 milhões de euros para…o Manchester City? Eu me pergunto se o Troyes viu a cor desse dinheiro, já que vai ficar na Ligue 2 mais uma temporada.
Uma semelhança entre o clube francês e o Marinos agora se senta no banco de reservas kanagawano. O australiano Patrick Kisnorbo foi efetivado como treinador, pelo menos até o final da J.League, só que Kisnorbo tem uma história de altos e baixos por clubes do City Group.
Na Austrália, pelo Melbourne City, foi campeão da A-League de 2020/21 e vice-campeão na temporada seguinte, com um bom desempenho de 41 vitórias, 16 empates e 15 derrotas em 72 jogos. Esse retrospecto lhe rendeu uma vaga justamente no Troyes, que lutava contra o rebaixamento na Ligue 1 2022/23, mas não deu certo.
Foram 40 jogos e apenas 3, você não leu errado, foram TRÊS vitórias em QUARENTA jogos de Patrick Kisnorbo no Troyes. O australiano foi testado e o laboratório de testes foi o Troyes, que pagou o pato das de apenas 23 pontos conquistados de 120 possíveis, pouco mais de 10% de aproveitamento.
Mesmo assim, Kisnorbo ganhou uma vaguinha como auxiliar no Marinos e agora, novamente, é o treinador principal de uma equipe. Uma equipe que não contratou bem, muito pelo contrário, contratou pouco e deixou muitas lacunas dentro do elenco.
O atual momento do Marinos, com a lanterna da J.League, passa muito pela falta de investimentos da Nissan e também do City Football Group, mas o “abandono” da montadora, abriu espaço para que o grupo árabe conseguisse mais poder de definição dentro do tricolor de Kanagawa e não parece que o Marinos terá a mesma importância que Manchester City, Girona, ou mesmo o Bahia.
Muito pelo contrário, o Marinos, por ter somente 20% de sua propriedade pertencentes ao City, parece estar no mesmo nível do Troyes, um clube laboratorial, que não recebe sequer 1 euro de investimento e precisa se contentar com os treinamentos e capacitações, enquanto recebe profissionais de péssima qualidade como Holland ou Kisnorbo.
Resta saber se a Nissan vai se desfazer de vez do Yokohama F. Marinos, ou se vai se recuperar e voltar a ser a maior apoiadora do clube. Mas caso decida vender seus 80%, o City os compraria? E caso compre, será que o Marinos entraria como o principal clube do City na Ásia?
Maior que Mumbai, Melbourne e Shenzen, o Marinos já é…resta saber se o City Group pensa assim. Um clube asiático com o poder que o City Group pode proporcionar, pode bater de frente com os Sauditas, mas é preciso investir.
Não da pra saber se o Marinos estaria no patamar do Bahia ou do Troyes, mas o City pode salvar ou acabar de vez com o Yokohama F. Marinos.