Indústria de mangás digitais no Japão restringe anúncios com conteúdo sexual

Após pressão pública e mais de 100 mil assinaturas, associação japonesa interrompe exibição de anúncios explícitos em sites acessíveis a crianças.

A Associação Japonesa de Livrarias Digitais (JEBA), que representa grandes plataformas de distribuição de mangás digitais, parou de exibir anúncios com conteúdo sexual explícito em sites acessíveis ao público geral, incluindo crianças, no final de abril.

Segundo a JEBA, foram suspensas propagandas que mostravam atos sexuais ou nudez, em uma tentativa de melhorar a autorregulação do setor. Entre os 11 serviços membros da associação estão plataformas populares como Comic CMOA e Mechacomic.

A decisão veio após diversas reclamações ao órgão privado de autorregulação publicitária JARO, que apontou a presença frequente de anúncios inapropriados em sites sem restrição de idade.

O tema chegou até o Parlamento japonês (Diet), onde foi discutido como um problema social. Houve também um apelo crescente para que anúncios fossem classificados com base em sua função e adequação ao público, evitando sua veiculação em sites infantis.

A JEBA, fundada em 2018, passou então a seguir padrões unificados para regular esse tipo de publicidade. “Enxergamos isso como um problema de toda a indústria e vamos trabalhar juntos para garantir que os anúncios sejam apropriados”, declarou um representante da associação.

A pressão da sociedade foi fundamental para a mudança. Uma mulher japonesa de 30 anos, mãe de três filhos, entregou em 4 de junho uma petição com mais de 100 mil assinaturas à Agência para Crianças e Famílias. Ela iniciou o movimento em setembro de 2024 após ver anúncios explícitos enquanto ajudava seus filhos a procurar guias de videogame.

Em uma coletiva de imprensa em Tóquio, ela explicou que não exige uma lei, mas sim que o governo reconheça o problema e coordene ações entre ministérios. Ela pediu pesquisas sobre a situação atual, análise de práticas internacionais e o desenvolvimento de soluções técnicas.

“Além da preocupação com a criação dos filhos, adultos também sofrem ao se deparar inesperadamente com esse tipo de conteúdo. Isso reforça a objetificação feminina e pode levar a viéses inconscientes de gênero e discriminação sexual, afirmou.

Apesar de ainda preocupada, ela comemorou os avanços. “Sou grata por esse tema ter sido reconhecido como um problema social, e por ver que empresas e grupos do setor estão se autorregulando gradualmente”, disse.