
Por: Matheus Braga (J.League Insider)
Time neozelandês é semiamador, mas fez por merecer sua participação na Copa do Mundo de Clubes e questionar essa vaga é esquecer da história do esporte
A Copa do Mundo de Clubes da FIFA começou cheia de novidades, mas com uma participação costumaz jamais antes questionada, sendo alçada aos olhos do público. Falo do Auckland City, time da Nova Zelândia, que é o vencedor da Liga dos Campeões da Oceânia de forma conscecutiva desde 2022.
Na primeira rodada, o clube 13 vezes campeão continental foi derrotado pelo Bayern de Munique por 10 a 0, o maior placar da história das Copas do Mundo e que só foi igualado neste nível de competição pela Espanha de 2013, que venceu o Taiti pelo mesmo placar na Copa das Confederações do Brasil.
A seriedade e a facilidade com a qual os campeões alemães passaram por cima do time semiamador, levantou diversos questionamentos sobre a participação dos neo-zelandeses na competição, enquanto clubes como Barcelona, Liverpool, São Paulo e Independiente estão de fora.
No entanto, o simples questionamento à participação do Auckland City nesta competição é ir contra a história completa do futebol.
A Nova Zelândia não possui uma liga profissional de futebol, o campeonato é amador e o maior campeão é justamente o Auckland City. Na realidade, nenhuma liga nacional na Oceânia inteira é profissional.
A falta de profionalização na OFC foi o motivo da Austrália migrar para a Confederação Asiática, com sua seleção nacional e com seus clubes. Hoje, a Austrália tem dois clubes neo-zelandeses filiados à federação e, por consequência, filiados à AFC. O Auckland FC, por exemplo, foi campeão australiano e irá disputar a Liga dos Campeões da Ásia.
Porém, se voltarmos aos primórdios do conceito de Mundial de Clubes, a Copa Intercontinental, a participação vedada aos campeões da UEFA Champions League e da Libertadores, rejeitando os campeões africanos, asiáticos e norte-americanos, seguiam os mesmos preceitos de quem não quer o Auckland City nesta edição.
Até 1990, apenas América do Sul e Europa possuiam futebol a nível profissional organizado e, portanto, pareceria óbvio que o conceito original de Mundial trouxesse apenas os campeões destes continentes…e hoje esse formato é criticado e até desconsiderados por alguns.
Diferentemente de Barcelona, Liverpool, São Paulo e outros gigantes continentais, o Auckland City, embora amador, dominou o futebol da Oceânia e venceu a competição continental de forma seguida desde 2022, ou seja, merece estar na Copa do Mundo de Clubes.
Curiosamente, o próprio Auckland City conquistou, no formato anterior, o 3º lugar em 2014! O clube amador tem a mesma campanha de clubes como Urawa Reds, Gamba Osaka, Internacional, Atlético-MG, Sanfrecce Hiroshima, River Plate e até o Flamengo.
Para resolver o problema, a solução não é a exclusão, mas sim a FIFA a intervir na Oceânia e profissionalizar o futebol no continente! Afinal, agora a OFC tem pelo menos um representante na Copa do Mundo, seja de seleções, seja de clubes.