Caso que chocou o país expôs laços entre políticos do governo e Igreja da Unificação; julgamento começa em outubro
Nesta terça-feira (8), o Japão marca três anos desde o assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, morto a tiros durante um comício eleitoral em Nara, no oeste do país. O crime, que abalou profundamente a sociedade japonesa, trouxe à tona conexões entre parlamentares do governo e a polêmica Igreja da Unificação. O julgamento do acusado está previsto para começar em 28 de outubro.
Abe, de 67 anos, foi alvejado a curta distância enquanto fazia um discurso de campanha, dois dias antes das eleições para a Câmara Alta do Parlamento. O crime chocou o Japão, conhecido por seus baixos índices de violência armada.
O acusado, Tetsuya Yamagami, de 44 anos, foi indiciado por assassinato. Ele afirmou à polícia que decidiu atacar Abe por causa dos vínculos do ex-premiê com a Igreja da Unificação. Segundo ele, sua mãe teria doado cerca de 100 milhões de ienes (aproximadamente R$ 3,7 milhões) à igreja, levando a família à ruína financeira.
Durante uma homenagem a Abe em um cemitério em Nara, o atual primeiro-ministro Shigeru Ishiba afirmou:
“Um crime desprezível foi cometido no meio de uma eleição. A democracia não pode ser vencida pela violência. Este ato deve ser condenado com veemência.”
A viúva de Abe, Akie, participou de uma cerimônia em Nagato, cidade natal do ex-líder, e disse:
“Ainda choro todos os dias pensando no meu marido. Espero que vocês não o esqueçam e continuem compartilhando sua história.”
O julgamento de Yamagami ocorrerá no Tribunal Distrital de Nara, com sentença prevista para janeiro do próximo ano. O caso também chamou atenção para o envolvimento histórico da Igreja da Unificação com o avô de Abe, Nobusuke Kishi, também ex-primeiro-ministro, acusado de facilitar a presença da igreja no Japão.
As investigações revelaram que diversos membros do Partido Liberal Democrático (PLD), ao qual Abe pertencia, tinham relações com a igreja e teriam recebido apoio eleitoral da instituição.
Em março deste ano, o Tribunal Distrital de Tóquio decidiu retirar o status religioso da Igreja da Unificação, oficialmente chamada de Federação da Família para a Paz Mundial e Unificação. A medida, ainda em fase de apelação, retiraria os benefícios fiscais da organização, mas não proibiria suas atividades no país.
Shinzo Abe foi o primeiro-ministro que mais tempo permaneceu no cargo no Japão, entre 2012 e 2020, após um breve mandato em 2006. Ele foi um dos políticos mais influentes do país, conhecido por reforçar a aliança com os Estados Unidos e por implementar políticas de segurança controversas.
Apesar de conquistas eleitorais, seu governo enfrentou escândalos de favorecimento, incluindo a venda de terras públicas com desconto a uma escola ligada à sua esposa, o que levou à falsificação de documentos e ao suicídio de um funcionário envolvido.