Com calor extremo e mais turistas e trabalhadores estrangeiros no país, cresce o número de acidentes em rios e praias; falta de conhecimento sobre riscos e regras é um dos fatores.
O Japão vive um verão com temperaturas extremas e, junto com ele, cresce o número de acidentes em rios, praias e lagos em todo o país. Muitos dos casos mais recentes envolvem turistas e trabalhadores estrangeiros, segundo autoridades locais.
De acordo com a Fundação Nippon, entre 1º de julho e 31 de agosto de 2024, foram registrados 229 acidentes aquáticos no país, com 265 pessoas envolvidas. Dessas, 172 morreram. Cerca de 10% das vítimas eram estrangeiras, principalmente em rios (quase metade dos casos) e no mar (cerca de 40%).
Alguns acidentes ocorreram em áreas onde o banho é proibido e não há medidas de segurança. Em muitos casos, os estrangeiros não conheciam bem as regras locais ou não sabiam nadar. A falta de experiência e de informação adequada sobre os riscos naturais do Japão é apontada como uma das principais causas.
Falta de familiaridade com a água
Segundo dados da OCDE de 2019, a porcentagem de adultos que sabem nadar varia bastante entre os países. Enquanto na Suécia o número chega a 90%, no Japão é de 60%, no Vietnã 40%, e no Nepal apenas 20%. Muitos dos estrangeiros que vivem no Japão vêm de países com pouca tradição em atividades aquáticas e onde escolas não oferecem acesso a piscinas ou ao mar.
Um funcionário de 30 anos, do Nepal, que chegou ao Japão em junho para trabalhar em um café em Nagoya, disse: “Já nadei em rios, mas nem todo mundo tem essa experiência. Como não temos mar no Nepal, quero muito nadar no mar japonês.”
Mas essa vontade pode ser perigosa. Os rios no Japão têm correntezas imprevisíveis e fundos escorregadios. Em Gifu, uma região popular para lazer em rios, sete estrangeiros morreram afogados só neste ano. Para prevenir novas tragédias, o governo local produziu folhetos em seis idiomas, explicando os perigos dos rios japoneses com palavras simples como “fundo”, “rápido” e “escorregadio”.
Medidas de prevenção e educação
Em Gifu também começou a trabalhar com empresas que contratam estrangeiros, voluntários e líderes comunitários para divulgar as orientações. A ideia é que pessoas que convivem com estrangeiros ajudem a passar as informações de forma clara e eficaz.
O professor Hidetoshi Saitoh, da Universidade de Tecnologia de Nagaoka, alerta: “Antes de entrar na água, é essencial verificar a profundidade.” Ele destaca que muitas vítimas caem em áreas fundas por julgarem o local seguro, apenas por a água ser clara. No mar, o fundo pode ficar mais profundo de repente com a chegada das ondas.
O professor ensina um método simples que pode salvar vidas: “boiar e esperar”. Segundo ele, se a pessoa cair na água ou for levada pela correnteza, não deve tentar nadar. O ideal é deitar de costas e boiar, até receber ajuda. “Mesmo quem não sabe nadar pode se salvar com essa técnica”, diz Saitoh.
Essa abordagem faz parte da educação de segurança em escolas japonesas e vem sendo ensinada também em países do Sudeste Asiático, como Filipinas, Tailândia e Indonésia, desde 2011.
Informação salva vidas
A diversidade cultural e a diferença de experiências com água entre os países tornam essencial a comunicação clara e respeitosa. Autoridades japonesas reforçam que é importante não assumir que todos conhecem os riscos locais. Campanhas de educação e conscientização continuam sendo a melhor forma de prevenir tragédias.