Em rara declaração conjunta, organizações históricas pedem que o Japão lidere o movimento mundial pelo desarmamento nuclear
Dois dos principais grupos antinucleares do Japão, que estavam divididos desde a Guerra Fria, emitiram nesta quarta-feira (23) uma rara declaração conjunta, marcando os 80 anos que se aproximam das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
A declaração foi assinada pelo Congresso Japonês Contra as Bombas A e H (Gensuikin) e pelo Conselho Japonês Contra as Bombas Atômicas e de Hidrogênio (Gensuikyo), além da Nihon Hidankyo, principal organização de sobreviventes das bombas atômicas e vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2024.
“Espero de verdade que essa colaboração seja um ponto de virada para que o movimento antinuclear do Japão cresça e se espalhe pelo mundo”, disse Terumi Tanaka, co-presidente da Nihon Hidankyo, durante coletiva de imprensa conjunta em Tóquio.
Com o aumento das tensões nucleares globais, os três grupos reforçaram que os relatos dos sobreviventes continuam sendo uma das armas mais poderosas contra o uso de bombas nucleares em conflitos.
Aproveitando a visibilidade do Prêmio Nobel, a declaração também pediu que o governo japonês rompa com a chamada “proteção nuclear” oferecida pelos Estados Unidos e assine com urgência o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares.
“Apesar dos sobreviventes terem chamado a atenção do mundo, o risco de uso de armas nucleares continua crescendo. Isso torna o papel do movimento antinuclear japonês mais importante do que nunca”, afirma o texto, criticando a recusa do Japão em aderir ao tratado, o que, segundo os grupos, prejudica a confiança internacional.
O movimento antinuclear japonês teve início em 1954, após o incidente de Bikini Atoll, quando um barco pesqueiro japonês foi contaminado por radiação durante testes nucleares dos EUA. A primeira Conferência Mundial Contra Bombas A e H foi realizada em Hiroshima, em 1955.
Nos anos 1960, divergências políticas dividiram o movimento: o Gensuikyo se alinhou ao Partido Comunista do Japão, que tolerava testes nucleares da União Soviética, enquanto o Gensuikin se uniu ao antigo Partido Socialista e sindicatos, que condenavam qualquer teste, independentemente do país.
Entre 1977 e 1985, os grupos organizaram a conferência mundial em conjunto, mas desde então realizam eventos separados em Hiroshima e Nagasaki a cada verão. A nova união, portanto, é vista como um passo histórico diante do cenário atual de insegurança global.