Pouco conhecida do público, a forte ligação de John Lennon com o Japão — especialmente com a cidade de Karuizawa — revela um lado mais íntimo e contemplativo do ex-Beatle
Embora seja mundialmente lembrado por sua vida agitada em Nova York e sua origem em Liverpool, John Lennon também teve uma forte e pouco conhecida ligação com o Japão — em especial com a cidade de Karuizawa, um refúgio de montanha cercado por florestas, a cerca de duas horas de Tóquio.
O músico, que faleceu em 1980, passou os três últimos verões de sua vida hospedado no tradicional Hotel Mampei, localizado entre as árvores de Karuizawa. Lá, viveu de forma simples ao lado da esposa Yoko Ono e do filho pequeno Sean, nascido em 1975.
Lennon passeava com frequência até a Cachoeira Shiraito e o mirante Usui Pass, além de visitar a padaria francesa local e comer torta de maçã no café do hotel. Uma curiosidade contada por um artigo local diz que o ex-Beatle ensinou ao garçom do hotel como preparar o tradicional Royal Milk Tea, bebida britânica com chá e leite.
Apesar desse vínculo, a relação de Lennon com Karuizawa quase não é citada em filmes ou biografias. No documentário “Imagine: John Lennon” (1988), por exemplo, essa parte da vida do músico sequer é mencionada. Até mesmo muitos japoneses desconhecem essa conexão. Um museu dedicado a Lennon existiu por pouco tempo em Saitama, próximo a Tóquio, mas fechou em 2010.
O pesquisador britânico Damian Flanagan, que estuda literatura japonesa e vive entre o Japão e o Reino Unido, vê na estadia de Lennon em Karuizawa algo mais profundo do que uma simples influência da esposa japonesa. Para ele, o músico encontrava ali um espaço de introspecção, longe dos holofotes, que também representava parte importante de sua identidade nos últimos anos de vida.
Segundo Flanagan, assim como Nova York era o “rosto público” de Lennon, Karuizawa era seu espaço privado, onde ele podia se reconectar consigo mesmo e com a natureza. Ele se pergunta como a vivência japonesa poderia ter influenciado a música de Lennon, caso ele tivesse vivido mais tempo.
Essa ligação com o Japão, muitas vezes ignorada pelos biógrafos, não é exclusiva de Lennon. O pianista canadense Glenn Gould, por exemplo, era profundamente apaixonado pelo romance japonês “Kusamakura”, de Natsume Soseki, mas essa faceta raramente aparece em sua história.