Gestores abandonam apostas negativas em renováveis e mostram ceticismo com petróleo, diante de incertezas econômicas e mudanças políticas
Hedge funds — fundos de investimento com estratégias agressivas — estão mudando sua visão sobre o setor de energia. Depois de quatro anos apostando na alta das ações de petróleo e na queda das renováveis, como solar e eólica, os gestores estão fazendo o oposto.
Segundo uma análise baseada em dados da empresa Hazeltree, que monitora cerca de 700 hedge funds com US$ 700 bilhões em ativos, desde outubro de 2024 até o segundo trimestre de 2025, a maioria dos fundos passou a apostar na queda das ações de petróleo e a reduzir suas posições negativas (shorts) em empresas de energia solar. Enquanto isso, as posições em energia eólica seguem positivas.
Essa mudança acontece em meio a preocupações com excesso de oferta de petróleo — alimentadas por países da OPEP+ que querem manter participação de mercado — e sinais de desaceleração econômica nos EUA e na China. Esses fatores levantam dúvidas sobre a demanda futura por petróleo.
“Estamos vendo o fundo do poço para algumas ações de energia limpa”, disse Todd Warren, gestor da Tribeca Investment Partners. “Ao mesmo tempo, há incertezas quanto ao equilíbrio entre oferta e demanda no setor de petróleo”, completou.
De fato, desde outubro de 2024, em 7 dos 9 meses analisados, mais fundos estavam apostando na queda das ações do S&P Global Oil Index. Isso contrasta com o período de 2021 a 2024, em que os fundos estavam majoritariamente otimistas com essas ações.
Lisa Audet, fundadora da Tall Trees Capital, com sede em Connecticut, explica:
“Estamos vendidos em ações de petróleo porque vemos preços muito mais baixos em 2026.”
Nos EUA, políticas do presidente Donald Trump para baixar os preços do petróleo também geraram incertezas no setor. Segundo uma pesquisa recente do Fed de Dallas, empresas do ramo demonstram preocupação com o preço-alvo de US$ 50 por barril, considerado insustentável por muitos.
Ao mesmo tempo, o cenário para energia renovável está melhorando. O número de fundos apostando contra o Invesco Solar ETF, que reúne ações solares, caiu para apenas 3% em junho — o menor nível desde abril de 2021. Já as ações do First Trust Global Wind Energy ETF continuam com mais fundos apostando na alta do que na baixa.
Mesmo com cortes em subsídios para energia limpa nos EUA, alguns gestores veem isso como um alívio, pois elimina incertezas políticas que travavam investimentos.
“Pelo menos agora sabemos quais são as regras, e os investidores podem voltar a avaliar esses setores como negócios”, disse Joe Mares, da Trium Capital.
Surpreendentemente, o orçamento de US$ 3,4 trilhões do governo Trump trouxe alguns pontos positivos para o setor, especialmente para grandes projetos solares.
“Foi menos pior do que o esperado”, afirmou Nishant Gupta, da Kanou Capital. Ele destaca que a proteção à produção doméstica foi maior do que o mercado esperava.
Desde abril, quando Trump anunciou novas tarifas — apelidadas pela Casa Branca de “Dia da Libertação” — as ações de energia limpa no S&P subiram cerca de 18%, enquanto as de petróleo caíram 4%.
Outra área que começa a ganhar fôlego é a de veículos elétricos (EVs). Apesar da China dominar o mercado e pressionar fabricantes ocidentais, o número de fundos apostando contra o setor caiu para 2,87% em junho, o segundo menor nível em quase cinco anos.
Analistas estimam que as vendas de EVs cresçam 25% este ano, e que até 2040, 40% dos carros do mundo sejam elétricos, o que poderá substituir 19 milhões de barris de petróleo por dia.
Para os especialistas, esse movimento é reflexo de uma realidade maior:
“Crescimento econômico sem energia de baixo carbono é inconcebível hoje”, afirmou Mares. “Boa parte do crescimento da demanda energética nos últimos anos veio das renováveis, e isso deve continuar.”