Fábricas japonesas enfrentam escassez de mão de obra local e dependem cada vez mais de trabalhadores estrangeiros

Caso da Iwadukasei, fornecedora da Toyota, revela desafios de recrutamento e o papel crescente de estagiários técnicos vindos da Ásia e nipo-brasileiros na região de Aichi.

Mesmo em uma província que abriga a Toyota Motor Corp. e dezenas de fornecedores, fábricas como a Iwadukasei, em Okazaki (Aichi), enfrentam dificuldades para contratar trabalhadores locais.
O presidente da empresa, Yoshinobu Uchida, afirma que “poucos jovens japoneses estão dispostos a trabalhar em fábricas”, devido ao ambiente exigente.

A Iwadukasei produz componentes plásticos para interiores de carros, além de peças para intercomunicadores e outros setores. Desde os anos 2000, a empresa quase não consegue contratar jovens japoneses, tendo recrutado apenas 10 locais em 20 anos.

Estagiários estrangeiros ocupam as vagas:

Sem alternativas, a empresa passou a contar com estagiários técnicos vindos da Indonésia e do Vietnã, através de programas do governo japonês. Hoje, a equipe é formada por 18 japoneses e 9 estrangeiros.

Entre eles está Vina, uma jovem indonésia de 24 anos que chegou ao Japão em abril. Ela inspeciona dutos de ar-condicionado automotivo e recebe cerca de 120 mil ienes por mês (US$ 816), quatro vezes mais do que ganharia em seu país. Vina envia entre 40 mil e 60 mil ienes mensalmente para seus pais e diz se sentir segura e motivada no Japão.

“Quero aprender os princípios 4-S do Japão e aplicá-los na indústria têxtil quando voltar à Indonésia,” disse Vina.

A trabalhadora vietnamita Dao Thi Hang inspeciona peças internas de automóveis em busca de defeitos na fábrica de Iwadukasei em Okazaki, província de Aichi, em 11 de junho. (Imagem via Asahi / Tomonori Asada)

Desafios de comunicação e inclusão:

Uchida reconhece que há barreiras de comunicação entre os funcionários japoneses e estrangeiros, o que pode gerar erros operacionais.
Apesar de preferir contratar japoneses, ele admite que não seria possível manter a produção atual sem os trabalhadores estrangeiros.

“Eles são um recurso precioso,” afirmou.

Envelhecimento populacional e dependência crescente:

Com a população japonesa em declínio, a dependência de mão de obra estrangeira cresce.
Em 2024, o Japão registrou 2,3 milhões de trabalhadores estrangeiros, o equivalente a 1 em cada 29 trabalhadores. Na província de Aichi, 1 em cada 18 trabalhadores é estrangeiro, a segunda maior proporção do país, atrás apenas de Tóquio.

Cerca de 40% dos estrangeiros em Aichi são residentes de longo prazo, como nipo-brasileiros e descendentes de japoneses, beneficiados pela lei de imigração revisada em 1990.

A nipo-brasileira Valeria Turci Sakaguchi, de 63 anos, vive em Toyota City e trabalhou por décadas em fábricas de autopeças. Após completar 60 anos, teve seu contrato encerrado e descobriu que não tem direito à aposentadoria japonesa, pois nunca foi informada sobre o sistema previdenciário.

Sou grata ao Japão, mas se os estrangeiros continuarem sendo usados como mão de obra barata, os jovens asiáticos enfrentarão os mesmos problemas que nós, brasileiros,” alertou.

Com informações via Asahi Shimbun