População da libélula vermelha “aki akane” caiu drasticamente e pode estar em risco de extinção por causa de pesticidas e mudanças na agricultura
Um dos símbolos mais marcantes do outono japonês, a libélula vermelha conhecida como “aki akane” (ou autumn darter, em inglês), está desaparecendo rapidamente em várias regiões do Japão. Em áreas de Nara, a população dessa espécie chegou a ser reduzida a apenas um centésimo — ou até um milésimo — do que se observava há 30 anos.
A informação foi divulgada por especialistas da Universidade de Educação de Nara, que monitoram a situação com preocupação.
“Está claro que a queda é generalizada”, afirmou Tatsuro Konagaya, professor associado de educação em ciências.
O Japão abriga cerca de 20 espécies de libélulas vermelhas. A “aki akane” é uma das mais comuns e aparece principalmente em áreas de planície por volta de setembro, trazendo cor e vida à paisagem típica do outono japonês.
Ciclo de vida ligado ao arroz
A libélula “aki akane” depende diretamente dos arrozais para se reproduzir. Ela coloca seus ovos no solo das plantações durante o outono. Na primavera, com os campos alagados, os ovos eclodem e as larvas crescem dentro da água. Quando chegam à fase adulta, sobem pelas hastes de arroz, mas ainda sem a coloração vermelha.
Durante os meses mais quentes do verão, elas se deslocam para áreas montanhosas mais frescas — como a vila de Soni, também em Nara. No fim do verão, já vermelhas, voltam para as planícies para acasalar e depositar ovos nas poças d’água dos arrozais.
O declínio começou a ser notado por volta do ano 2000. Um estudo da Universidade de Ishikawa mostrou que, em 1989, as libélulas surgiam em 80% dos arrozais da cidade. Em 2009, esse número caiu para apenas 19%. Hoje, a espécie é considerada em risco de extinção em todo o Japão.
Pesticidas e mudanças ambientais
Originalmente habitantes de áreas úmidas naturais, as “aki akane” se adaptaram aos arrozais com o avanço da agricultura. No entanto, a urbanização e o desaparecimento de pântanos, somados à conversão dos campos alagados em plantações secas, afetaram seriamente o ambiente natural da espécie.
Além disso, o uso crescente de pesticidas do tipo neonicotinóide — altamente tóxicos para as libélulas — é apontado como uma das principais causas do declínio.
“Ainda que faltem estudos de longo prazo, acreditamos que a situação em Nara segue a mesma tendência nacional”, explicou Konagaya.
Esperança com a recuperação dos arrozais
Apesar do cenário preocupante, especialistas acreditam que a população da libélula pode se recuperar se forem restaurados mais arrozais com condições adequadas para reprodução.
“É hora de repensar práticas agrícolas, incluindo o uso de pesticidas”, alertou Konagaya.
“Se o estilo de vida humano mudar e o meio ambiente for restaurado, ainda é possível preservar essa paisagem japonesa tradicional, com libélulas vermelhas dançando nos céus do outono.”