Japão cancela programa de intercâmbio com cidades africanas após protestos e desinformação

Iniciativa da JICA gerou reação negativa após ser confundida com política de imigração; governo japonês nega intenção de criar visto especial e reforça compromisso com trocas culturais.

A Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) anunciou nesta quinta-feira (25) que irá cancelar o programa “JICA Africa Hometown”, após uma onda de protestos e desinformação que associou erroneamente a iniciativa à promoção de imigração africana para o Japão.

O projeto, lançado em agosto com apoio do Ministério das Relações Exteriores, tinha como objetivo fortalecer o intercâmbio cultural entre quatro cidades japonesas e países africanos.
As parcerias seriam:

  • Imabari (Ehime) com Moçambique
  • Kisarazu (Chiba) com Nigéria
  • Nagai (Yamagata) com Tanzânia
  • Sanjo (Niigata) com Gana

Após o anúncio, as cidades designadas receberam centenas de ligações e e-mails de protesto, com moradores alegando que o programa incentivaria imigração em massa e poderia afetar a ordem pública.

A situação se agravou quando o governo da Nigéria divulgou uma nota afirmando que o Japão criaria um visto especial para jovens nigerianos viverem e trabalharem em Kisarazu. O governo japonês negou a informação e solicitou correção oficial, reiterando que não há planos para criar tal visto.

O presidente da JICA, Akihiko Tanaka, pediu desculpas às autoridades locais e declarou:

“Nunca promovemos imigração e não temos intenção de fazê-lo no futuro. O programa foi mal interpretado e acabou gerando um peso excessivo para os municípios envolvidos.”

Cancelamento e preocupações diplomáticas:

Mesmo com esclarecimentos públicos, os protestos continuaram, e algumas cidades pediram ao governo central o cancelamento total do projeto. A JICA e o ministério concluíram que o uso do termo “hometown” pode ter contribuído para a confusão sobre o objetivo da iniciativa.

Um funcionário sênior do ministério expressou preocupação:

“Seria problemático se o cancelamento fosse visto como uma vitória da internet.”

Apesar da retirada do projeto, o governo japonês afirmou que continuará promovendo intercâmbios culturais com países africanos, reforçando que o conteúdo da proposta era significativo e bem-intencionado.

O Japão mantém políticas migratórias rigorosas, com postura cautelosa em relação à entrada de estrangeiros. Nos últimos anos, o país tem aceitado trabalhadores estrangeiros qualificados para suprir a escassez de mão de obra, causada pelo envelhecimento populacional e pela queda na taxa de natalidade.

O episódio revela os desafios enfrentados por iniciativas de cooperação internacional em tempos de polarização digital e desinformação viral, especialmente quando envolvem temas sensíveis como migração e identidade cultural.

Com informações via Asahi Shimbun e JICA – Declaração Oficial