Conservadora indicada pelo PLD para liderar o Japão negocia apoio parlamentar em meio a críticas sobre postura nacionalista, escândalos e visita ao Santuário Yasukuni.
A conservadora Sanae Takaichi, indicada pelo Partido Liberal Democrata (PLD) como nova líder, enfrenta resistência interna e externa às vésperas da votação parlamentar que pode torná-la a primeira mulher primeira-ministra do Japão.
Impasse com o Komeito:
O parceiro de coalizão Komeito, de perfil social-liberal e ligado à organização budista Soka Gakkai, criticou:
- A linguagem dura de Takaichi sobre estrangeiros
- Suas visitas ao Santuário Yasukuni, visto como símbolo do militarismo japonês
- A falta de resposta firme ao escândalo de financiamento político que abalou o PLD
Após reunião de 90 minutos, o líder do Komeito, Tetsuo Saito, afirmou que não houve consenso e que a coalizão pode ser revista. Sem o Komeito, o PLD não tem maioria parlamentar, o que pode adiar ou até comprometer a posse de Takaichi.
Oposição articula alternativa:
O Partido Democrático Constitucional (CDP) convocou outras siglas para apoiar um candidato alternativo. O nome mais citado é o de Yuichiro Tamaki, líder do Partido Democrático para o Povo (DPP), defensor de estímulos econômicos e corte de impostos.
A votação no parlamento, prevista para 15 de outubro, pode ser adiada enquanto as negociações continuam. Segundo analistas, a chance de união entre partidos da oposição é remota, mas não descartada.
Postura conservadora e legado de Abe
Durante a campanha interna do PLD, Takaichi adotou uma imagem moderada, mas há dúvidas sobre se manterá essa postura como premiê.
Ela tem histórico de:
- Defesa da visita ao Santuário Yasukuni, mesmo como chefe de governo
- Críticas ao uso de sobrenomes separados por casais
- Revisão da declaração Murayama de 1995, que pediu desculpas pelos atos do Japão na guerra
Em entrevista, Takaichi afirmou:
“Parar visitas ou agir de forma hesitante só encoraja o outro lado. Continuarei com calma e firmeza.”
Ela se considera herdeira política de Shinzo Abe, ex-primeiro-ministro assassinado em 2022, e é vice-presidente da bancada ligada à organização conservadora Nippon Kaigi.
Formação e trajetória
Takaichi cresceu em uma família comum de dupla renda, com o pai em uma fábrica e a mãe na polícia de Nara. Desde jovem, demonstrava admiração pelo Rescrito Imperial sobre Educação, revogado em 1948 por contrariar a Constituição pós-guerra.
Ela ganhou notoriedade como comentarista política de perfil nacionalista e já declarou que as guerras do Japão após o Incidente da Manchúria foram “de autodefesa e preservação”.
Mesmo após críticas internas, Takaichi afirmou:
“Não refleti muito sobre minha posição em relação ao Yasukuni ou aos sobrenomes separados.”
A expectativa agora é saber se seu governo será pragmático e conciliador ou se colocará princípios conservadores no centro da agenda, rompendo com a linha do governo Ishiba.