Adam Kosa afirma que o país vive um “momento decisivo” para reconhecer a comunidade surda e tornar a Língua de Sinais Japonesa oficialmente reconhecida
O Japão se prepara para sediar, pela primeira vez, as Surdolimpíadas, Jogos Olímpicos para atletas surdos, que acontecerão em Tóquio de 15 a 26 de novembro. O evento deve reunir cerca de 3.000 atletas de 80 países e regiões, tornando-se um marco para a comunidade surda japonesa.
Em entrevista à Kyodo News, Adam Kosa, presidente do Comitê Internacional de Esportes para Surdos (ICSD), destacou que o Japão está em um “momento decisivo” para ampliar a aceitação da comunidade surda e promover o uso da Língua de Sinais Japonesa (JSL).
“Espero que as Surdolimpíadas em Tóquio tragam mudanças positivas e ajudem a sociedade japonesa a reconhecer e abraçar as pessoas surdas”, afirmou Kosa, que também é surdo e ex-membro do Parlamento Europeu pela Hungria.
Segundo ele, uma nova legislação aprovada neste ano pelo governo japonês representa um passo importante para o reconhecimento oficial da língua de sinais, especialmente em áreas como educação.
Kosa destacou o exemplo de Taiwan, que sediou as Surdolimpíadas em 2009 e, desde então, promoveu avanços na inclusão da comunidade surda no cotidiano e nas escolas.
Historicamente, a língua de sinais no Japão não era vista como um idioma completo, mas sim como uma forma “inferior” de comunicação. Pessoas surdas chegaram a ser proibidas de usar a língua de sinais nas escolas, sendo punidas quando o faziam.
“A língua de sinais é a língua materna da pessoa surda. O idioma falado é secundário para nós”, explicou Kosa, reforçando a importância da comunicação visual e gestual.
Durante os Jogos, a Língua de Sinais Internacional será usada como idioma comum entre os atletas — da mesma forma que o inglês costuma servir como língua universal em competições internacionais.
Kosa também elogiou a organização dos Jogos Paralímpicos de Tóquio de 2021, ressaltando que o sucesso daquele evento inspira confiança para as Surdolimpíadas.
Apesar da boa relação entre os movimentos surdo e paralímpico, ele observou que ainda não há consenso sobre uma integração total, já que as Surdolimpíadas têm cultura e identidade próprias, fortemente ligadas à língua de sinais.
A realização dos Jogos em Tóquio também marca um avanço para o esporte surdo na Ásia, com a participação inédita de países como Laos e Timor-Leste.
“O mais importante é que o público japonês entenda, ao ver os atletas surdos competindo, que a chave está em usar a língua de sinais. Ela é a ponte que conecta todos nós”, concluiu Kosa.