Com aumento nos casos de pedaladas erradas e lapsos de atenção, especialistas defendem limites pessoais, exames cognitivos e veículos com freio automático para idosos.
Com o aumento dos acidentes de trânsito envolvendo motoristas idosos, especialistas em segurança viária e medicina preventiva no Japão têm reforçado a necessidade de adotar medidas para reduzir os riscos.
Shu Watanabe, diretor da Sociedade Japonesa de Direção Segura e Condições Médicas, recomenda que pessoas mais velhas estabeleçam limites pessoais de direção, como dirigir apenas em dias de sol, dentro de um raio de três quilômetros de casa ou apenas em vias com boa visibilidade.
“O declínio na atenção é um processo fisiológico natural que não pode ser evitado”, explica Watanabe. “Por isso, é importante compensar essa limitação evitando dirigir sob estresse.”
Erros de pedal e envelhecimento
Segundo o Instituto de Pesquisa e Análise de Acidentes de Trânsito (ITARDA), erros ao pressionar o acelerador em vez do freio causaram 2.853 acidentes e 74 mortes em 2024. Embora o número tenha caído pela metade em relação a 2015, a proporção de motoristas idosos responsáveis por esses casos subiu de 30% para mais de 50%.
Grande parte desses acidentes ocorre em estacionamentos, onde é necessário realizar várias tarefas simultaneamente, como observar pedestres e ajustar a velocidade. De acordo com o professor Masahito Hitosugi, da Universidade de Medicina de Shiga, a capacidade de realizar múltiplas tarefas diminui com a idade, o que eleva o risco.
Além disso, a perda de força muscular nas pernas e a menor mobilidade das articulações podem fazer com que o idoso pressione o pedal errado. “É essencial reconhecer os próprios limites”, alerta Hitosugi, que sugere exercícios físicos regulares e técnicas simples de segurança, como manter o calcanhar apoiado no chão ao dirigir.
Declínio cognitivo e fluxo sanguíneo no cérebro
Watanabe também explica que dirigir exige atenção dividida e rápida resposta a estímulos visuais e auditivos. No entanto, com o envelhecimento, o fluxo sanguíneo no cérebro diminui, reduzindo a capacidade de alternar rapidamente o foco.
Isso pode levar a atrasos ao trocar o pé do acelerador para o freio, e em situações de pânico, o motorista pode pressionar o acelerador novamente, aumentando o risco de colisão.
Para ajudar os motoristas a avaliar suas habilidades, a Federação Automobilística do Japão (JAF) oferece testes cognitivos e treinamentos gratuitos em seu portal voltado a condutores idosos.
Mais idosos no volante, menos devoluções de CNH
Embora o número total de motoristas no Japão esteja diminuindo, a quantidade de pessoas com 75 anos ou mais aumentou 1,8 vez em dez anos, somando quase 8 milhões de condutores, cerca de 10% de todas as carteiras de habilitação.
Em 2024, 410 acidentes fatais foram causados por motoristas com 75 anos ou mais, representando quase 20% do total. Casos como o do homem de 87 anos que matou mãe e filha em Ikebukuro (2019) chamaram atenção nacional e incentivaram muitos idosos a devolver suas licenças.
No entanto, o número de devoluções vem caindo: foram 264.916 licenças entregues voluntariamente em 2024, uma queda significativa em relação a 2019.
Tecnologia e novos veículos para idosos
Para reduzir os riscos, o governo japonês tornou obrigatório, desde 2021, que novos veículos tenham sistemas automáticos de frenagem. A partir de 2028, todos os carros com câmbio automático deverão ter um mecanismo de controle de aceleração para evitar erros de pedal (ACPE).

Empresas privadas também investem em alternativas. A startup Luup Inc., de Tóquio, anunciou o lançamento de um triciclo elétrico de um só assento, que pode ser usado por pessoas sem carteira de motorista, incluindo idosos que decidiram parar de dirigir.
“O importante é preservar a autonomia e a segurança ao mesmo tempo”, resume Watanabe. “Com novas tecnologias e conscientização, é possível continuar se locomovendo com tranquilidade mesmo na velhice.”
Com informações via Asahi Shimbun