Trump chega ao Japão para encontro com nova premiê Sanae Takaichi, que busca aliviar tensões comerciais

Primeira mulher a liderar o Japão aposta em relação pessoal com o presidente dos EUA e propõe até a compra de caminhonetes Ford F-150 como gesto simbólico de amizade entre os dois países.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou nesta segunda-feira (27) ao Japão para uma série de encontros com a nova primeira-ministra Sanae Takaichi, que assumiu o cargo há uma semana e busca construir uma relação próxima com o líder americano para reduzir as tensões comerciais entre os dois países.

Entre os gestos simbólicos planejados por Tóquio, o governo japonês estuda comprar caminhonetes Ford F-150, um dos veículos mais populares dos EUA, como sinal de boa vontade. A ideia, porém, é vista como pouco prática devido às ruas estreitas das cidades japonesas, especialmente em Tóquio.

“Ela tem bom gosto”, disse Trump, entusiasmado com a proposta enquanto viajava a bordo do Air Force One. “É uma caminhonete incrível.”

Durante o voo, os dois líderes conversaram por telefone. Takaichi destacou ser protegida do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, que mantinha uma relação próxima com Trump, e o elogiou por seu papel recente em um acordo de cessar-fogo em Gaza.

“Achei que ele é uma pessoa alegre e divertida”, disse Takaichi. “Ele me reconheceu e disse que se lembra de mim como uma política de quem o primeiro-ministro Abe gostava muito.”

Desafio diplomático para Takaichi

A visita marca o primeiro grande teste diplomático da premiê, que lidera uma coalizão frágil e tenta equilibrar as pressões de Washington com os interesses econômicos de Tóquio.

Trump, por sua vez, busca que aliados comprem mais produtos americanos e invistam em infraestrutura e energia nos Estados Unidos. O encontro no Japão ocorre antes de sua reunião com o presidente chinês Xi Jinping, prevista para quinta-feira (30), na Coreia do Sul.

Ambos os países tentam conter o avanço industrial da China, especialmente nos setores de veículos elétricos, inteligência artificial e semicondutores — áreas estratégicas para as economias japonesa e americana.

Segundo a pesquisadora Kristi Govella, do Center for Strategic and International Studies, Trump pode usar o encontro para “mostrar a força da parceria EUA-Japão” antes da reunião com Xi.

Investimentos e gestos de aproximação

O governo japonês já havia concordado, em setembro, em investir US$ 550 bilhões nos Estados Unidos, o que levou Trump a reduzir uma tarifa planejada de 25% para 15% sobre produtos japoneses. Agora, Tóquio tenta garantir que parte desses investimentos beneficie empresas japonesas.

O ministro da Economia e Comércio, Ryosei Akazawa, disse que há interesse de companhias japonesas em projetos nas áreas de chips e energia.

Além da possível compra de caminhonetes Ford, o governo avalia aumentar a importação de soja, gás natural liquefeito e automóveis americanos.

O jornal Nikkei informou que Takaichi pode exibir os modelos F-150 em um local de destaque durante a visita de Trump, e que a frota poderia ser usada pelo Ministério dos Transportes em inspeções de estradas e infraestrutura.

O presidente americano deve se reunir ainda com o imperador Naruhito, discursar a bordo do porta-aviões USS George Washington, e participar de um jantar com líderes empresariais, incluindo Akio Toyoda, presidente da Toyota, que pode anunciar a importação de veículos fabricados nos EUA.

“Acho que ela será uma grande líder”, disse Trump. “Ela é uma grande amiga do senhor Abe, que foi um homem extraordinário.”

Entre tradição e independência política

Analistas afirmam que Takaichi tenta reforçar a “linha Abe” — conservadora e próxima dos EUA —, mas precisa também construir sua própria identidade política.

“Ela quer começar com impacto”, disse Rintaro Nishimura, especialista em política japonesa da consultoria The Asia Group. “Mas depender demais da herança de Abe pode limitar seu espaço como nova líder.”

Trump permanecerá no Japão até quarta-feira (29), quando parte para a Coreia do Sul. O sucesso da visita será medido pela capacidade de Takaichi de mostrar lealdade ao aliado americano sem comprometer os interesses econômicos do Japão — um equilíbrio delicado para a nova premiê.