Criado há gerações como iguaria local, o coelho gigante de Akita enfrenta declínio de produtores e mudanças nos hábitos alimentares, mas moradores lutam para preservar a tradição.
Em Akita, no norte do Japão, uma antiga tradição culinária corre o risco de desaparecer. O coelho gigante de Akita, conhecido por sua pelagem branca e olhos vermelhos, é criado há gerações como uma iguaria regional — mas o número de criadores e o interesse pelo consumo da carne têm diminuído drasticamente.
Durante décadas, o coelho gigante foi presença certa nas festas de Ano-Novo e outros eventos locais, apreciado por sua carne macia e sabor delicado, comparável ao famoso frango hinai jidori da região. Pratos como o nabe (ensopado de coelho com missô), além de versões grelhadas e fritas, fazem parte da herança gastronômica de Akita.
Apesar de o consumo de coelho ser comum em outros países, no Japão poucas raças são criadas para alimentação, o que torna o coelho gigante de Akita uma raridade. Em 2021, o Ministério da Cultura japonês reconheceu seu valor histórico, incluindo o animal na lista das “Comidas de 100 Anos”, ao lado de outros pratos tradicionais como o kiritanpo (bolinho de arroz grelhado) e o inaniwa udon (macarrão artesanal).
A criação de coelhos em Akita remonta à era Meiji (1868–1912). Registros da cidade de Daisen, um dos principais polos produtores, mostram que em 1926 havia cerca de 17 mil animais criados na cidade. Hoje, restam apenas seis criadores, com uma produção anual de cerca de 200 coelhos.
Diante do risco de extinção da tradição, autoridades locais têm investido em eventos e programas culturais. Desde 1988, Daisen realiza o Festival Nacional do Coelho Gigante, que atrai cerca de 10 mil visitantes todos os anos. O evento inclui competições, exposições e atividades educativas para valorizar o animal e a culinária regional.
Além disso, está sendo desenvolvida uma nova linhagem chamada “nakasen getsuyo”, alimentada com polpa de perila — uma planta usada na culinária japonesa e associada a benefícios à saúde. O objetivo é revitalizar o consumo de carne de coelho e torná-lo mais atraente ao público moderno.
Apesar das críticas de grupos de defesa dos animais, que consideram o consumo de coelho “bárbaro”, os criadores locais defendem o valor cultural da prática. O agricultor Akio Sato, de 84 anos, que cria coelhos há quase cinco décadas, diz que o animal faz parte da história e da identidade de Akita. “Quero que as pessoas entendam nosso passado, não apenas vejam o coelho como comida”, afirmou.
A tradição também vem atraindo jovens empreendedores, como Tatsumi Muto, de 28 anos, natural de Hokkaido. Ele se mudou para Akita há quatro anos para abrir sua própria fazenda, com a ideia de aproveitar todas as partes do animal — carne, pele e ossos — de forma sustentável. “Se nada mudar, o coelho gigante de Akita pode desaparecer”, alertou. “Quero mostrar como ele é delicioso e, com isso, divulgar a cultura alimentar de Akita para o resto do Japão.”
Para os moradores da região, o coelho gigante é muito mais que um prato tradicional: é um símbolo de identidade e resistência cultural. Com o esforço de produtores, festivais e reconhecimento nacional, há esperança de que essa tradição centenária continue viva por muitas gerações.
