Pesquisa no Japão revela: 54% aceitariam morar em “Jiko Bukken” (imóveis estigmatizados) se o aluguel for barato. Assassinato é o maior obstáculo.
No mercado imobiliário japonês, existe um termo que causa arrepios em alguns e desperta o interesse econômico em outros: “Jiko Bukken” (imóveis estigmatizados). O termo é um eufemismo para propriedades onde ocorreram mortes (naturais ou crimes), suicídios, incêndios ou outros incidentes graves.
Uma pesquisa recente realizada pela AlbaLink, operadora do site Wakeari Bukken Kaitori Pro (especializado em imóveis com problemas), ouviu 500 pessoas em todo o Japão para entender o que faria alguém aceitar ou rejeitar totalmente viver nesses locais.
O Grande Atrativo: O Bolso Fala Mais Alto
Pela lei japonesa, imobiliárias devem divulgar se um imóvel é um Jiko Bukken. Como isso geralmente afasta inquilinos, os proprietários tendem a baixar os preços drasticamente. A pesquisa confirmou que o fator econômico é o principal motivador.

Quando perguntados sobre “condições para morar em um imóvel estigmatizado”:
- 1º Lugar (54,2%): Aluguel Barato. A maioria dos entrevistados afirmou que, se o desconto for significativo (alguns citam metade do preço de mercado), o benefício financeiro supera o medo ou o desconforto psicológico. Isso permite viver em áreas ou prédios que, normalmente, seriam inacessíveis.
- 2º Lugar (34,6%): Sem Natureza Criminal. Muitos aceitariam o imóvel se a morte fosse por causas naturais ou solidão (Kodokushi), e não por crimes violentos.
- 3º Lugar (18,2%): Renovação Completa. Se o interior estiver limpo, reformado e sem vestígios do incidente, a resistência diminui.
O Limite do Aceitável: O Que Bloqueia o Negócio
Por outro lado, existem situações que a maioria considera inaceitáveis, independentemente do preço.
Quando perguntados sobre “imóveis onde absolutamente não morariam”:
- 1º Lugar (55,0%): Assassinato. Mais da metade dos participantes rejeita imóveis onde ocorreram homicídios. As razões variam desde medo de assombrações e energias negativas até preocupações reais com a segurança da área e o risco de o criminoso retornar.
- 2º Lugar (21,4%): Suicídio. O estigma do suicídio carrega um peso psicológico forte, com inquilinos temendo sentir a angústia do antigo morador ou enfrentar uma atmosfera depressiva (“má circulação de ar”, “umidade”, “energia pesada”).
- 3º Lugar (9,2%): Incêndio. A preocupação aqui é menos sobrenatural e mais estrutural/estética, com receio de danos ocultos, cheiro de queimado persistente ou reformas malfeitas.
A Realidade do Mercado
A pesquisa conclui que a rejeição total aos Jiko Bukken é menor do que se imagina. Apenas 18,2% disseram que “nunca morariam” em um imóvel desse tipo.
A grande maioria (55,8%) respondeu que “evitaria se possível, mas depende do caso”, e 24,4% afirmaram que “morariam dependendo das condições”.
Isso demonstra que, no Japão atual, a necessidade de reduzir o custo de vida e a busca por localização conveniente muitas vezes vencem a superstição, desde que o histórico do imóvel não envolva violência extrema.

Impacto para a Comunidade Nipo-Brasileira e Estrangeiros
Dekasseguis e nipo-brasileiros são exatamente o público que mais aproveita esses imóveis:
- Muitos vivem em apartamentos antigos em cidades-fábrica (Ōizumi, Hamamatsu, Toyota, etc.)
- Aluguel 30-50% mais barato ajuda a mandar mais remessa para o Brasil
- A maioria não acredita em espírito ou “energia ruim”, foco é economia real
- Já é comum ver grupos de brasileiros alugando 2DK/3DK grandes em Gunma e Aichi por ¥40-60 mil que custariam ¥100 mil+ se fossem “normais”
