Tradição dos bentôs vendidos em estações enfrenta queda histórica e busca reconhecimento para preservar sabores locais
As empresas do Japan Railway Group (JR) e fabricantes de ekiben estão unindo esforços para registrar as tradicionais marmitas vendidas em estações de trem como um patrimônio cultural imaterial do Japão. A iniciativa busca salvar uma prática centenária ameaçada pela modernização do transporte e pelo avanço das lojas de conveniência.
De acordo com representantes do setor, os fabricantes de ekiben já representam apenas 20% do total registrado no auge da tradição. A popularização dos trens de alta velocidade e a facilidade de encontrar refeições prontas em konbini reduziram drasticamente a produção e a venda dessas caixas de refeição típicas.
Os ekiben preservam técnicas culinárias e ingredientes regionais e completam 140 anos de história em 2024. Por isso, empresas do JR e produtores locais desejam destacar seu valor cultural e revitalizar a tradição.
Em Hiroshima, a empresa Hiroshima Ekibento Co., fundada em 1901, ainda prepara seu famoso ekiben de enguia anago grelhada. A pele do peixe estala na grelha enquanto a cobertura adocicada carameliza, enchendo o ar de aroma. A enguia é colocada cuidadosamente sobre o arroz antes do envio ao balcão.
A ideia de registrar o ekiben como patrimônio surgiu em 2023, proposta por Yoshifumi Okuyama, do departamento de promoção cultural ferroviária da JR West. Ele se inspirou ao ouvir o representante Kazuo Nakashima afirmar que “o ekiben com especialidades locais é cultura, enquanto o bentô uniforme das conveniências é civilização”.
A proposta recebeu apoio da Agência de Assuntos Culturais em 2024. Em seu relatório, Okuyama observou que, ao contrário de pratos regionais já desaparecidos pela falta de ingredientes, o ekiben conseguiu preservar seus sabores e métodos, mesmo com mudanças na origem dos produtos usados.
Pesquisas de opinião também mostraram que o ekiben ajuda viajantes a vivenciar tradições alimentares locais, enquanto muitos pratos tradicionais raramente são preparados em casa, devido ao tempo exigido.
Nakashima afirmou que passou a enxergar mais claramente o papel do ekiben na preservação da culinária regional. “O ekiben pode ser visto como um patrimônio ferroviário, e vou transmiti-lo à próxima geração”, disse.
A associação de fabricantes revelou que, em 1967, havia cerca de 400 membros. Naquele período, a população japonesa ultrapassava 100 milhões e o uso dos trens era intenso, especialmente entre jovens que migravam do campo para as cidades. Hoje, restam apenas 82 fabricantes. As paradas dos trens são mais rápidas e os vendedores desapareceram das plataformas.
A alta nos preços do arroz e de outros ingredientes também prejudica o negócio. A Hiroshima Ekibento, por exemplo, descontinuou em setembro de 2024 seu popular Shamoji Kakimeshi, uma marmita em formato de pá de arroz com ostras fritas e arroz de ostra, por causa do aumento no custo das ostras e das embalagens.
Ainda assim, grandes nomes do setor, como a Kiyoken Co., famosa pelos shumai de Yokohama, e outros seis produtores aderiram ao projeto. Além disso, todas as empresas do Grupo JR — de Hokkaido a Kyushu — estão colaborando, exibindo painéis sobre a história do ekiben e pratos locais nas lojas das estações.
“Como operadores ferroviários, devemos usar o ekiben como um novo meio de atrair pessoas para as estações locais”, afirmou Okuyama.
