Três gigantes da mídia japonesa (Mainichi, Kyodo e Sankei) enviaram cartas de protesto à Perplexity AI. O medo é que as “pesquisas de clique zero” destruam a receita do jornalismo.
A batalha entre organizações de mídia e empresas de Inteligência Artificial generativa atingiu um novo patamar no Japão. Três grandes empresas de comunicação: The Mainichi Newspapers Co., Kyodo News e Sankei Shimbun Co., enviaram cartas formais de protesto à Perplexity AI Inc., empresa sediada nos EUA.
As organizações acusam a empresa de “free-riding” (pegar carona grátis), ou seja, utilizar conteúdo jornalístico não autorizado para gerar respostas, ameaçando a sustentabilidade financeira do jornalismo e, por consequência, os fundamentos da democracia.
O Teste do Plágio: “Relógio Celular”
A preocupação das editoras não é teórica. Em outubro, um repórter do Mainichi Shimbun realizou um teste prático:
- A Pergunta: Ele perguntou à Perplexity AI, em japonês, detalhes sobre como as células iPS descobertas por Shinya Yamanaka estavam sendo usadas pela startup Turn Biotechnologies.
- A Resposta da IA: A Perplexity forneceu uma resposta de 742 caracteres.
- A Fonte Original: A resposta era quase idêntica à parte gratuita de um artigo pago do Mainichi (de 919 caracteres) publicado em abril de 2024. A IA utilizou frases idênticas, como “reprogramação de células somáticas” e “voltar o relógio celular”.
O Mainichi argumenta que isso viola a Lei de Direitos Autorais do Japão, cumprindo os critérios de similaridade na expressão criativa e cópia de trabalho alheio sem permissão.
A Ameaça das “Pesquisas de Clique Zero”
O cerne do problema econômico reside na diferença entre buscadores tradicionais e a IA generativa:
- Buscadores Tradicionais (ex: Google): Exibem URLs e pequenos trechos (snippets). O usuário geralmente clica para ler a matéria completa, gerando receita de publicidade para o jornal.
- IA Generativa (ex: Perplexity): Fornece uma resposta completa baseada no artigo original. Se o usuário fica satisfeito com a resposta da IA, ele não clica no link original.
Esse fenômeno é chamado de “zero-click search” (pesquisa de clique zero).
Dados do Pew Research Center divulgados em julho mostram o perigo: enquanto 15% dos usuários clicam em links externos em pesquisas tradicionais, apenas 8% o fazem quando resumos gerados por IA são exibidos.
Exigência de Reforma Legal
A Lei de Direitos Autorais do Japão possui uma exceção para “exploração menor” em processamento de computador. No entanto, a Associação Japonesa de Editores e Publicadores de Jornais argumenta que as respostas da IA contêm a essência dos artigos originais e, portanto, não podem ser consideradas “menores”.
O grupo afirma que essa tendência das empresas de IA de negligenciar direitos de propriedade intelectual exige uma ação governamental urgente para alterar a lei e adaptá-la à “era da IA generativa”.
Com informações via Mainichi Shimbun
