Japão deve suspender a Kawasaki Heavy por fraude em dados de motores de submarinos

Empresa teria falsificado informações de eficiência de combustível por cerca de 20 anos em contratos com a Marinha japonesa

O Ministério da Defesa do Japão está finalizando planos para aplicar uma “suspensão de designação” à Kawasaki Heavy Industries Ltd., uma das maiores fabricantes industriais do país. A medida deve impedir a empresa de participar de licitações públicas por cerca de dois meses e meio, após a confirmação de falsificação de dados de eficiência de combustível em motores a diesel usados em submarinos da Força Marítima de Autodefesa do Japão.

A decisão do ministério se baseia no entendimento de que houve repetidas violações contratuais. O cálculo das penalidades financeiras ainda está em andamento, segundo fontes ligadas ao caso.

O problema foi descoberto durante uma investigação sobre fraudes em dados de inspeção de motores para navios comerciais. Durante o processo, a própria Kawasaki informou ao ministério que havia “suspeitas de irregularidades também em submarinos”. A empresa criou um comitê especial de investigação, com participação de advogados externos, e o relatório final deve ser divulgado até o fim do ano.

Atualmente, a Força Marítima de Autodefesa opera 25 submarinos, construídos em número semelhante pela Kawasaki Heavy e pela Mitsubishi Heavy Industries. A Kawasaki é responsável pela fabricação dos motores a diesel usados para recarregar as baterias que alimentam esses submarinos, inclusive os produzidos pela Mitsubishi. Esses motores estão presentes em classes ativas, como Oyashio, Soryu e Taigei.

Após a montagem, os motores passam por testes em terra para medir dados como consumo de combustível. Segundo as fontes, a Kawasaki teria informado valores falsificados para aparentar que os motores atendiam aos padrões exigidos pelo ministério e para reduzir variações nos resultados. A prática teria ocorrido de forma contínua por cerca de 20 anos, desde pelo menos 2002.

O Ministério da Defesa informou que, nos testes em alto-mar, os motores atenderam aos padrões exigidos, o que foi confirmado posteriormente. De acordo com o ex-ministro da Defesa Gen Nakatani, o caso “não afeta a segurança nem o desempenho dos submarinos”.

A Kawasaki Heavy é uma das principais fornecedoras de equipamentos de defesa do Japão. No ano de 2024, a empresa ficou em segundo lugar em contratos com a Agência de Aquisição, Tecnologia e Logística, somando 638,3 bilhões de ienes, atrás apenas da Mitsubishi Heavy. Uma suspensão desse tipo normalmente impede a empresa de participar de novas licitações, o que pode afetar o plano do governo japonês de fortalecer suas capacidades de defesa.

Este não é o primeiro problema recente da empresa com o Ministério da Defesa. Desde dezembro de 2024, a Kawasaki recebeu duas advertências severas por um escândalo de caixa dois, no qual cerca de 1,7 bilhão de ienes teriam sido usados para oferecer presentes inadequados a tripulantes de submarinos e outras pessoas. Além disso, em 2013, a empresa já havia sofrido uma suspensão de dois meses por envolvimento em um esquema de manipulação de licitações para o desenvolvimento de helicópteros do Exército japonês.