
Por: Matheus Braga (J.League Insider)
Foi divulgado pela imprensa japonesa, um estudo da Universidade de Economia de Hiroshima sobre as transferências de atletas na J.League, analisando porque, mesmo com um mercado globalizado e cada vez mais caro, as equipes japonesas não vendem suas joias por grandes cifras.
Não é de hoje que a gente conversa por aqui sobre a “exploração” que os clubes japoneses sofrem por partes dos clubes europeus que, cada vez mais, chegam no Japão e levam os talentos da J.League deixando pouco, ou nenhum, dinheiro.
Hoje, os jogadores que compõem a seleção japonesa são avaliados (juntos) em 286,5 milhões de euros, no entanto renderam à J.League apenas 23,2 milhões de euros.
Mais de 10 jogadores tem, em seus registros no Transfermarkt, o valor de venda em branco (?) ou custo zero. Entre eles Takefusa Kubo, que hoje é avaliado em 40 milhões de euros.
Kaoru Mitoma, o jogador japonês melhor avaliado (45 milhões de euros), rendeu ao Kawasaki Frontale apenas 3 milhões de euros!
Mas por que isso acontece?
QUEM COMANDA AS NEGOCIAÇÕES?

O slide acima mostra o estudo feito pela Universidade de Economia de Hiroshima e mostra um estudo de caso.
Foram listados alguns clubes japoneses e clubes de fora do Japão mostrando como cada um deles realiza negociações de transferência de atletas.
Na caixa amarela, vemos 3 colunas:
- A coluna da esquerda apresenta o modelo de negociação entre clubes. Ou seja, o Clube A procura o Clube B
- A coluna do meio apresenta o modelo de agente designado por clubes. Ou seja, o Clube A nomeia um agente para procurar o Clube B e negociar.
- A coluna da direita apresenta o modelo de agentes dos atletas. Ou seja, os agentes dos jogadores oferecem seu ativo, atualmente no Clube A, para o Clube B e assim negociam a transferência inteira.
Reparem como as primeiras linhas, que aprensetam clubes da MLS e da Bundesliga preferem o modelo de negociação entre clubes, com apenas o Stuttgart permitindo a negociação pelo agente do jogador.
Na J.League é o oposto! Todos os clubes tem suas transferências realizadas por empresarios de jogadores e apenas dois exemplos tem uma minima preferência por negociação entre clubes.
É importante entender que o agente do jogador está zelando pelos seus próprios interesses e pelos de seus clientes, NÃO pelos do clube.
AS TAXAS DE TRANSFERÊNCIA

Acima vemos um exemplo de como uma taxa de transferência por atletas japoneses é definida pelo clube.
O orçamento do clube está em 2,45 bilhões de euros, mas são deduzidos os gastos com salários dos atletas atualmente no elenco (aqui em 920 milhões de euros) e as taxas de agente na Europa e no Japão (370 mil euros para cada), chegando em uma taxa oferecida de 790 mil euros.
Repare que a taxa de transferência é menos de 1% do orçamento no exemplo citado, enquanto o mesmo clube pode usar mais de 20% desse valor para contratar um jogador europeu ou brasileiro.
CLÁUSULA DE REVENDA

Uma forma de garantir um lucro futuro com atletas é a cláusula de revenda. Isso garante ao Clube A uma porcentagem na taxa de transferência que o Clube B receberá do Clube C pelo jogador.
Um grande exemplo é a venda de Antony, do Ajax para o Manchester United, que render mais de 96 milhões ao São Paulo graças à cláusula de revenda.
No estudo, foram apresentados os casos de cada liga sobre a cláusula de revenda. Sendo que na Europa, os clubes optam por incluir a taxa, principalmente em negociações envolvendo jogadores jovens.
Na MLS, é OBRIGATÓRIA a inclusão desta cláusula!
Na J.League ele é rejeitada pelos agentes dos jogadores. Ou seja, além de não receber um valor justo pela saída do seu ativo, os clubes japoneses não possuem direito futuro nenhum sobre eles.
CONCLUSÃO: A DOENÇA E O TRATAMENTO
O estudo indica que o problema principal é que a J.League, através de seus clubes, deixaram tanto as negociações nas mãos de agentes dos atletas, que agora são reféns destes empresários.
Mas como tratar? A J.League precisa, de acordo com o estudo, estabelecer um sistema interno que permita a negociação das transferências SEM a interferência dos agentes de jogadores. Sendo assim, os clubes devem capacitar ou contratar profissionais de gestão capacitados para tal.
Como essa alternativa leva tempo, a liga precisa, de forma centralizada, nomear agentes de extrema confiança nos países de destino, esses agentes serão credenciados pela J.League para negociarem atletas pensando no interesse dos clubes.
Por fim, a liga precisa usar mais as plataformas mais modernas e as mais usadas no mundo como o Transfer Room
Em resumo, os atuais dirigentes dos clubes da J.League não operam da mesma maneiras como os dirigentes dos clubes ao redor do mundo, permitindo que agentes de atletas negociem TODOS os detalhes da transferência.
Essa prática fez a J.League como um todo perder MILHÕES de euros em vendas de atletas para o exterior, o que impediu com que a J.League conseguisse fazer investimentos em jogadores de elite ou em jogadores mais jovens.
A melhor forma de competir com os sauditas e seu dinheiro infinito não é ter 9, 10 estrangeiros por clube, mas sim ter organização economica para garantir que os clubes da J.League possam estar no mercado.
Hoje, o Nagoya Grampus sonha com De Bruyne e é chacota, mas se estivessem organizados, os clubes japoneses poderiam ter PELO MENOS uma grande estrela cada um para elevar a publicidade da liga e aumentar a forma como a J.League se posiciona no mercado!