Especialistas alertam para riscos à visão com telas próximas aos olhos e recomendam pausas regulares e redução do tempo de uso
Médicos e pesquisadores no Japão estão preocupados com o aumento de casos de estrabismo adquirido, especialmente entre crianças e adolescentes. O problema tem sido associado ao uso excessivo de smartphones e outros dispositivos digitais, e pode fazer com que os olhos fiquem desalinhados, dando a aparência de estarem “vesgos”.
A condição, chamada esotropia adquirida ou “estrabismo de smartphone”, ocorre quando um dos olhos se volta para o nariz enquanto o outro permanece alinhado. Segundo especialistas, isso pode causar visão dupla, dificuldade de percepção de profundidade e até comprometer o desenvolvimento visual se não tratado a tempo.
De acordo com um estudo da Universidade de Kyoto, cerca de 1 em cada 50 japoneses têm algum tipo de estrabismo, sendo o tipo mais comum o estrabismo externo (quando o olho se desvia para fora). No entanto, nos últimos anos, houve um aumento preocupante de casos de estrabismo interno, ligado diretamente ao tempo excessivo de tela.
Desde a pandemia de COVID-19, que obrigou muitas pessoas a permanecerem em casa, o uso de smartphones, tablets e jogos eletrônicos cresceu rapidamente, afetando a saúde ocular de crianças e adolescentes.
A professora Kyoko Ono, da Universidade Médica e Odontológica de Tóquio, explicou que olhar para telas pequenas e muito próximas é uma forma de estímulo visual intensa e nova para os olhos humanos. Ela reforça que os pais devem limitar o tempo de uso e incentivar as crianças a brincarem ao ar livre.
Uma pesquisa do governo japonês mostrou que, entre 2018 e 2022, o tempo médio diário de internet entre os estudantes aumentou em mais de 100 minutos. Em 2022, alunos do ensino fundamental passavam em média 214 minutos por dia conectados, enquanto estudantes do ensino médio usavam dispositivos por até 345 minutos.
A Associação Japonesa de Estrabismo e Ambliopia analisou 194 casos de jovens diagnosticados com esotropia aguda em apenas um ano. A maior parte dos casos foi registrada entre adolescentes de 16 anos, com predominância entre estudantes do ensino fundamental e médio.
Entre os diagnosticados, 156 eram usuários excessivos de telas — definidos como crianças que passavam mais de 60 minutos por dia em dispositivos e adolescentes que ultrapassavam os 120 minutos. Após a recomendação de reduzir o tempo de tela pela metade, manter distância mínima de 30 centímetros e fazer pausas a cada 30 minutos, 44% mostraram melhora nos sintomas, mas apenas 10 foram curados completamente.
Segundo a professora Miho Sato, da Universidade de Hamamatsu, a chance de recuperação é maior quando os sintomas são leves e o tratamento é iniciado cedo. Já os casos mais graves, ou aqueles que não conseguiram reduzir o tempo de tela, apresentaram piora.
Ela alerta que, mesmo com ajustes no uso dos aparelhos, o estrabismo só melhora totalmente em casos muito leves. Em situações mais avançadas, pode ser necessário tratamento com injeções nos músculos dos olhos ou cirurgia.
Recomendações para prevenção:
Reduzir o tempo diário de uso de dispositivos;
Manter uma distância mínima de 30 cm entre os olhos e a tela;
Fazer pausas de 5 minutos a cada 30 minutos de uso;
Estimular atividades ao ar livre.
O recado dos especialistas é claro: o uso consciente e equilibrado da tecnologia é fundamental para preservar a saúde dos olhos — especialmente das crianças.