Pintura do período Edo é exibida anualmente por apenas uma hora em templo de Hirosaki e inspirou a imagem clássica dos fantasmas flutuantes no Japão.
Por que fantasmas flutuam e não têm pernas? A resposta pode estar na obra do pintor japonês Maruyama Okyo (1733–1795), cuja famosa pintura de fantasma é exibida apenas uma vez por ano no templo Kudoji, na cidade de Hirosaki, província de Aomori.
🖼️ Obra original que moldou o imaginário japonês
Okyo é considerado o primeiro artista a retratar um fantasma sem pernas, uma escolha estilística que acabou se tornando o modelo visual mais popular no imaginário japonês. Sua obra, intitulada “Kenpon Bokuga Tansai Hangonko no Zu” (Desenho em tinta sobre seda com leve coloração, fantasma surgindo do incenso), mede 99,3 cm de altura por 27 cm de largura e retrata um espírito feminino triste, mas sereno e belo.

A pintura foi doada ao templo em 1784 por Morioka Shuzen Motonori, um vassalo do antigo domínio de Hirosaki, para homenagear sua esposa e concubinas falecidas.
🕯️ Exibição acontece apenas uma vez por ano
A obra é exibida somente no dia 18 do calendário lunar, o que em 2025 caiu em 13 de junho. Os visitantes têm apenas uma hora para vê-la. O costume começou há cerca de 60 a 70 anos por iniciativa de um antigo sacerdote do templo.
🧑🎨 Arte contemporânea se une à tradição
Desde 2023, a exibição passou a incluir obras contemporâneas com a temática de fantasmas, como parte das comemorações dos 240 anos da doação da pintura original. Este ano, a novidade foi a obra “Reiwa Hangonko no Zu”, criada por Chihiro Ishizuka, autor do mangá “Flying Witch” e residente em Hirosaki.
A obra de Ishizuka mostra uma jovem mulher sorrindo ao olhar para trás, vestida de azul e com a parte inferior do corpo transparente, como na pintura de Okyo. Inspirado pelo contexto da obra original, o artista buscou transmitir o desejo de rever alguém querido, em vez de provocar medo. “Tentei expressar o sentimento de querer ver essa pessoa novamente”, explicou.

A terceira obra exibida, do artista local Sen-An, completou a mostra.
👀 Mais de 200 visitantes comparecem ao templo
Cerca de 200 pessoas visitaram o templo para contemplar as três pinturas. Kentaro Ichinohe, morador de Tsuruta, disse: “A obra de Okyo tem um sentimento de solidão. A de Ishizuka mostra a tristeza de uma mulher, e a de Sen-An parece ter sido pintada de uma só vez.”
O sacerdote-chefe Kosho Suto destacou a importância do evento: “Preservar bens culturais do passado e a arte contemporânea é uma das missões do templo. Espero que mais pessoas se interessem por arte e se conectem com essas pinturas.”
🌕 Curiosidade cultural: Fantasmas no Japão e o Bon Festival
A representação de fantasmas sem pernas tornou-se comum no Japão, especialmente em obras relacionadas ao Festival Bon, evento budista que homenageia os ancestrais falecidos. A pintura de Okyo está entre os primeiros registros dessa iconografia e permanece como referência visual até hoje.
Com informações via Asahi