Candidatos em Saitama intensificam discurso contra estrangeiros nas ruas, gerando temores de discriminação e afastamento da realidade local.
Com a proximidade das eleições para a Câmara Alta no Japão, marcadas para 20 de julho, discursos políticos com tom nacionalista e críticas à presença de estrangeiros têm ganhado espaço, especialmente na província de Saitama, ao norte de Tóquio. Candidatos de diversos partidos vêm defendendo medidas mais rígidas sobre imigração, alimentando temores de discriminação e afastamento da realidade local.
Durante comícios em cidades como Kawaguchi e Warabi, onde a população estrangeira representa, respectivamente, 8,4% e 13,3%, candidatos do partido de oposição Sanseito têm defendido o endurecimento do controle sobre estrangeiros. Um deles afirmou em discurso: “O aumento excessivo de estrangeiros piora a segurança pública e leva ao colapso da sociedade”, sendo aplaudido pelo público.

A legenda promove uma política de “Japoneses em primeiro lugar” e exige que candidatos e membros comprovem nacionalidade japonesa. A proposta encontra eco entre parte do eleitorado local, que cita receios com segurança pública e o uso de serviços sociais por estrangeiros, muitas vezes baseando-se em informações sem embasamento.
Outro partido, o Nippon Ishin, também distribuiu panfletos com a mensagem “Recuperar uma Saitama segura”, enquanto candidatos do Komeito prometeram deportar imigrantes ilegais e endurecer regras para pedidos de refúgio.
Apesar da retórica, dados oficiais mostram outra realidade. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, estrangeiros representaram apenas 4% dos segurados no sistema nacional de saúde, mas responderam por apenas 1,39% dos gastos médicos. No mesmo ano, apenas 2,8% das famílias que receberam assistência social eram estrangeiras, um número praticamente estável ao longo da última década, mesmo com aumento da população estrangeira.
Na área criminal, os dados também não sustentam a narrativa de aumento da violência. Em 2024, 8,8% dos autuados pela polícia de Saitama eram estrangeiros, apenas 0,9 ponto percentual a mais que em 2019, mesmo com um crescimento de 27% na população estrangeira da província nesse período.
A retórica inflamada já vem gerando impactos no cotidiano. Em Warabi, um candidato chegou a gritar frases como “coreanos, voltem para a Coreia”, em um discurso marcado por expressões de ódio. Um imigrante de Bangladesh, ao ouvir a fala, relatou que muitos estrangeiros se sentem mais inseguros diante do clima político atual: “Ainda acredito que o Japão é um lugar seguro, mas muita gente anda com medo.”

Enquanto candidatos disputam espaço com propostas radicais, cresce a preocupação com o aumento da xenofobia e da desinformação no debate público. Especialistas e autoridades locais alertam que as eleições não podem se transformar em palanque para o preconceito.
Com informações via Mainichi Shimbun