Popularidade do premiê Shigeru Ishiba oscila após perdas no Senado, enquanto o partido Sanseito cresce com discurso nacionalista e apelo entre os jovens.
O governo do primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba vive um momento delicado após a derrota nas eleições para a Câmara Alta, realizada em 20 de julho. Apesar da perda de maioria no Senado, pesquisas recentes revelam um país politicamente dividido: parte dos eleitores ainda apoia o premiê, enquanto cresce a pressão por sua renúncia, inclusive dentro do próprio Partido Liberal Democrata (PLD).
Segundo sondagens realizadas pelos jornais Mainichi Shimbun e Asahi Shimbun, cerca de 29% dos eleitores aprovam o governo Ishiba, enquanto os índices de reprovação ultrapassam os 55%. Quando perguntados se o premiê deveria deixar o cargo após a derrota, entre 41% e 42% dos entrevistados responderam que sim, mas a maioria entre os apoiadores do PLD ainda deseja que ele continue.
Curiosamente, o principal motivo citado pelos eleitores para apoiar Ishiba é a falta de alternativas viáveis, seguido por confiança em sua liderança. Já entre os críticos, os pontos centrais são falta de propostas promissoras e descrédito na liderança do premiê.
Sanseito avança com discurso nacionalista
Enquanto o PLD e seu parceiro de coalizão Komeito recuam, o partido Sanseito emergiu como uma das grandes surpresas da eleição. Com um discurso nacionalista e voltado para o lema “Japão em primeiro lugar“, o partido ampliou drasticamente sua presença no Senado, passando de apenas uma cadeira para 14 assentos, terceiro maior desempenho entre os opositores.
Segundo pesquisa da Asahi, 52% dos eleitores veem com bons olhos a ascensão do Sanseito, enquanto 34% demonstraram preocupação com sua retórica antimigração. Entre suas propostas polêmicas estão restrições à imigração, fim de auxílios sociais a estrangeiros e limitação ao acesso ao seguro saúde público por não japoneses.

A pesquisa também mostra que o apoio ao Sanseito é maior entre os jovens: 71% dos entrevistados com menos de 30 anos aprovam suas diretrizes. Entre os idosos, a situação se inverte, apenas 29% das pessoas com mais de 70 anos simpatizam com o partido.
Descontentamento econômico e impasse político
A política fiscal também foi um dos temas centrais da eleição. A maioria dos eleitores (até 59%) defende reduzir temporariamente o imposto sobre consumo como resposta à alta do custo de vida. A oposição pressionou por esse corte, enquanto o governo propôs apenas repasses diretos em dinheiro, medida que teve recepção mista.
Além disso, a gestão de Ishiba nas negociações comerciais com os EUA segue dividindo opiniões. O recente acordo com o governo Trump sobre tarifas recebeu aprovação de apenas 28% dos eleitores, segundo o Mainichi, embora outra sondagem da Asahi mostre uma melhora na percepção pública: 40% agora aprovam o trato comercial, frente a índices inferiores a 25% em meses anteriores.
Cenário partidário fragmentado
Os dados revelam um eleitorado cada vez mais pulverizado. O PLD mantém cerca de 20% de apoio, seguido por Sanseito (10%), Partido Democrático para o Povo (8%), Partido Democrático Constitucional (7%), e Nippon Ishin (4%). A maioria, no entanto, ainda não apoia nenhum partido específico, o que indica um cenário político em aberto.
Com a perda de maioria no Senado e sem força na Câmara Baixa desde outubro, o governo Ishiba se vê diante de três opções: formar nova coalizão com partidos de oposição, tentar reorganizar a base aliada ou ceder às pressões por renovação no comando do país.
Se a instabilidade persistir, o Japão pode enfrentar semanas decisivas de intensas negociações e mudanças na liderança – num contexto marcado por insatisfação econômica, radicalização do discurso político e crescimento de forças ultranacionalistas.
Com informações via Asahi Shimbun – Links 1 e 2; Mainichi Shimbun