Hiroshima lembra 80 anos da bomba atômica com apelo por um mundo sem armas nucleares

Cerimônia destaca papel dos jovens na luta pelo desarmamento e homenageia vítimas do ataque nuclear de 1945

A cidade de Hiroshima realizou nesta quarta-feira (6) a cerimônia que marca os 80 anos do lançamento da bomba atômica pelos Estados Unidos, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. O evento foi um chamado à paz e ao fim das armas nucleares, especialmente com a crescente preocupação sobre novos conflitos no mundo.

O prefeito Kazumi Matsui destacou a importância de envolver os jovens na causa do desarmamento nuclear, já que o número de sobreviventes do ataque, conhecidos como hibakusha, vem diminuindo com o passar dos anos.

“A juventude, os líderes do futuro, precisa entender que políticas equivocadas sobre armas nucleares podem causar consequências desumanas. É hora de agir com essa consciência”, declarou Matsui em seu discurso.

A cerimônia aconteceu no Parque Memorial da Paz, perto do local onde a bomba foi detonada. Às 8h15 da manhã, exatamente o horário da explosão em 1945, foi respeitado um minuto de silêncio em homenagem às cerca de 140 mil vítimas que morreram até o fim daquele ano.

Este ano, um número recorde de 120 países e regiões, além da União Europeia, participou do evento. Cerca de 55 mil pessoas estiveram presentes. Países como Belarus, Palestina e Taiwan participaram pela primeira vez em anos. Já a Rússia, envolvida na guerra contra a Ucrânia, não compareceu novamente.

O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, reforçou o papel do país como único a ter sofrido um ataque nuclear em tempos de guerra e pediu esforços conjuntos entre países com e sem armas nucleares.

“É missão do Japão promover o fim das armas nucleares, especialmente agora, com tantas divisões no mundo”, disse Ishiba.

A cerimônia acontece poucos meses após a premiação do grupo Nihon Hidankyo com o Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento à sua luta de décadas contra as armas nucleares, baseada nos relatos dos sobreviventes.

Mas o tempo está passando. Pela primeira vez, o número de sobreviventes oficialmente reconhecidos das bombas de Hiroshima e Nagasaki caiu para menos de 100 mil. A média de idade deles já passa dos 86 anos.

Diante de conflitos como os da Ucrânia, Gaza e da crescente corrida armamentista entre EUA, Rússia e China, o prefeito Matsui alertou que a ideia de que armas nucleares garantem segurança é perigosa.

“Essa crença ignora as lições da história. É preciso diálogo e coragem para abandonar essas armas”, disse ele.

Apesar dos apelos, o Japão ainda não assinou o Tratado da ONU que proíbe armas nucleares, por depender da proteção nuclear dos Estados Unidos. O primeiro-ministro Ishiba evitou comentar sobre o tratado, focando em medidas que podem ser tomadas entre países com diferentes posturas sobre o tema.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, enviou uma mensagem lamentando o risco crescente de guerra nuclear:

“As armas que destruíram Hiroshima e Nagasaki voltaram a ser vistas como ferramentas de poder e pressão”, afirmou.

A cerimônia também foi marcada por homenagens emocionantes de sobreviventes. Shinobu Ono, hoje com 84 anos, tinha apenas 4 quando a bomba caiu. Seu pai ficou gravemente ferido.

“Não lembro muito, mas venho todo ano rezar pela paz. Ver o que está acontecendo na Ucrânia parte meu coração”, disse ela.

Três dias após Hiroshima, uma segunda bomba foi lançada em Nagasaki. Seis dias depois, o Japão se rendeu, encerrando oficialmente a Segunda Guerra Mundial.

Hoje, Estados Unidos e Rússia ainda detêm 90% das armas nucleares do mundo, segundo relatório do Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo. A China também tem aumentado seu arsenal rapidamente.

A cerimônia dos 80 anos de Hiroshima foi, mais uma vez, um alerta para o mundo: que a tragédia de 1945 jamais se repita.