Em discurso final como primeiro-ministro do Japão, Ishiba condena guerra na Ucrânia, ofensiva em Gaza e pede reforma urgente do Conselho de Segurança; Assembleia Geral da ONU tem início marcado por embates e estreias históricas.
O primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba fez nesta terça-feira (23) seu discurso de despedida na 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, destacando a urgência de reformas no Conselho de Segurança, a defesa da democracia inclusiva e o apoio à solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina.
Ishiba condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, país com assento permanente no Conselho de Segurança, e afirmou que o órgão está falhando em sua missão de manter a paz, pedindo a expansão de membros permanentes e não permanentes sem comprometer sua eficácia.
Sobre o conflito em Gaza, Ishiba exigiu o fim imediato das operações militares israelenses, que segundo ele estão agravando a crise humanitária, incluindo fome e deslocamento forçado. Ele alertou que, se Israel continuar a bloquear a solução de dois Estados, o Japão poderá tomar medidas diplomáticas adicionais.
Apesar de o Japão ainda não reconhecer oficialmente o Estado da Palestina, Ishiba afirmou que a questão é de “quando” e não de “se”, alinhando-se a países como França, Reino Unido e Canadá, que reconheceram a Palestina nos últimos dias.
O premiê também abordou temas como:
- Desarmamento nuclear, criticando ameaças russas e reafirmando o compromisso com o Tratado de Não-Proliferação
- Relações asiáticas, destacando o papel da tolerância pós-guerra para a paz regional
- Coreia do Norte, exigindo cumprimento das resoluções da ONU e diálogo sobre os japoneses sequestrados
Ishiba encerra seu mandato após anunciar a renúncia à liderança do Partido Liberal Democrático, com sucessão marcada para 4 de outubro.
Assembleia Geral começa com embates e estreias:
A abertura da Assembleia foi marcada por discursos fortes e momentos históricos. Como tradição, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi o primeiro a falar. Em sua fala de 18 minutos, Lula criticou sanções unilaterais dos EUA, condenou o que chamou de genocídio em Gaza e defendeu o reconhecimento da Palestina como Estado soberano.

Sem citar diretamente Donald Trump, Lula afirmou que o mundo vive uma “desordem internacional” e que democracias sólidas exigem combate à desigualdade, proteção à infância e regulação das big techs.
Trump, que discursou em seguida, respondeu brevemente ao encontro com Lula nos bastidores, dizendo que “foi cordial, mas breve”. Em seu discurso, o presidente americano defendeu o fortalecimento da soberania nacional, criticou o multilateralismo excessivo e reafirmou o apoio dos EUA a Israel, sem mencionar diretamente o reconhecimento da Palestina.
Zelenskyy e Palestina em destaque:
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, discursou na quarta-feira (24), pedindo mais apoio militar e diplomático contra a Rússia e acusando Moscou de usar o veto no Conselho de Segurança para proteger seus próprios interesses. Zelenskyy também agradeceu aos países que mantêm sanções contra o Kremlin e pediu que a ONU reforme urgentemente seus mecanismos de decisão.

A questão palestina dominou os dois primeiros dias. Mais de 150 países já reconhecem oficialmente o Estado da Palestina, e o tema foi citado por diversos líderes como urgente e central para a paz no Oriente Médio.
Estreia histórica da Síria:
Outro destaque foi o primeiro discurso da Síria na ONU em 58 anos, feito pelo presidente Ahmed al-Sharaa, ex-líder rebelde que assumiu o poder após a queda de Bashar al-Assad em 2024.

Al-Sharaa pediu o fim completo das sanções internacionais, denunciou os ataques israelenses e afirmou que seu governo está comprometido com o diálogo e reconstrução nacional. Ele também reconheceu os horrores da guerra civil e prometeu justiça para os crimes do regime anterior, além de apoio ao povo de Gaza.
Com informações via Asahi Shimbun, Mainichi Shimbun, Agência Brasil e CNN Brasil