Sanae Takaichi busca apoio do Nippon Ishin após rompimento com o Komeito; partidos iniciam diálogo para formar novo governo de coalizão.
O cenário político japonês vive um momento de reviravolta com o início das negociações formais entre o Partido Liberal Democrata (PLD) e o Nippon Ishin (Partido da Inovação do Japão) para a formação de uma nova coalizão de governo. A movimentação ocorre após o rompimento do Komeito, parceiro histórico do PLD, o que deixou o partido governista sem maioria nas duas casas do Parlamento.
As conversas começaram oficialmente em 16 de outubro, quando Sanae Takaichi, recém-eleita presidente do PLD, se reuniu no Parlamento com Fumitake Fujita, co-líder do Nippon Ishin. A pauta incluiu temas econômicos, sociais e de reforma política, além de uma proposta do Ishin para a criação de uma “segunda capital” no país, capaz de funcionar como centro administrativo alternativo a Tóquio em casos de emergência.

Apoio político em troca de reformas
O governador de Osaka e líder do Nippon Ishin, Hirofumi Yoshimura, classificou como “essenciais” duas condições para apoiar Takaichi: a criação da segunda capital e a reforma do sistema de seguridade social, com a redução dos encargos de seguro social para a população em idade ativa.
Outro ponto de destaque é a proibição de doações políticas corporativas, proposta pelo Nippon Ishin como parte de uma ampla reforma política, medida que enfrenta resistência dentro do PLD. Mesmo assim, Takaichi afirmou que levará as demandas à executiva do partido.
Caso o acordo se concretize, o Nippon Ishin pretende votar a favor de Takaichi na sessão parlamentar marcada para 21 de outubro, o que praticamente garantirá sua eleição como primeira-ministra do Japão. Somados, PLD e Ishin controlam 231 cadeiras na Câmara Baixa, apenas duas a menos que a maioria, e 120 no Senado, faltando cinco para o controle total.
Conversas com outros partidos e bastidores tensos
As negociações entre PLD e Ishin coincidem com uma intensa movimentação política. No mesmo dia, Takaichi também se reuniu com Yuichiro Tamaki, líder do Partido Democrático do Povo (DPP), em busca de apoio adicional. Tamaki, no entanto, reagiu com forte desapontamento ao saber do acordo entre o Ishin e o PLD.
Em uma transmissão ao vivo, Tamaki acusou Fujita de agir de forma “dupla”, afirmando que horas antes ambos discutiam a possibilidade de unir os partidos de oposição em torno de um candidato único para o cargo de primeiro-ministro. Segundo ele, “não há mais razão para o DPP participar de uma coalizão se o Ishin decidir se unir ao PLD”.

Alinhamento e divergências
Apesar das críticas, os dois partidos, PLD e Nippon Ishin, compartilham posições semelhantes em temas fundamentais, como segurança nacional, diplomacia e reforma constitucional. Takaichi afirmou que existe “grande convergência nas políticas básicas”, e que ambas as legendas compartilham o “sentido de responsabilidade por governar juntas”.
Durante o encontro, o co-líder do Ishin, Fujita, apresentou uma lista com 12 propostas prioritárias, incluindo:
- suspensão temporária do imposto sobre consumo de alimentos,
- redução do número de assentos parlamentares,
- avanço na energia nuclear e uso de mísseis de longo alcance,
- e criação de um conselho para revisar o Artigo 9 da Constituição, que renuncia formalmente à guerra.
O PLD demonstrou reservas quanto a algumas dessas pautas, mas ambas as partes concordaram em continuar as negociações para chegar a um consenso.
Reação da oposição e próximos passos
Enquanto o PLD e o Ishin buscam alinhar suas propostas, o líder do Partido Democrático Constitucional do Japão (CDPJ), Yoshihiko Noda, tenta unificar os partidos oposicionistas para lançar um candidato alternativo a Takaichi. Noda também citou a possibilidade de atrair o Komeito, que recentemente rompeu sua aliança de 26 anos com o PLD.
Mesmo com as incertezas, o avanço das conversas com o Ishin fortalece Takaichi, que busca se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Japão.
Com o apoio potencial do Nippon Ishin, e negociações em andamento com independentes e pequenos partidos, o PLD parece mais próximo de garantir maioria parlamentar e consolidar uma nova coalizão de governo já na próxima semana.
Com informações via Mainichi Shimbun e Asahi Shimbun