As IA’s no Japão estão sendo aplicadas em diversas frentes: desde prever o risco de evasão escolar, auxiliar no aprendizado de inglês, até preservar memórias de sobreviventes da bomba atômica.
A Inteligência Artificial (IA) no Japão está sendo cada vez mais utilizada para fins sociais e educacionais, demonstrando o potencial da tecnologia para apoiar grupos vulneráveis e aprimorar o aprendizado. Iniciativas em diversas cidades e instituições mostram como a IA está sendo integrada em áreas delicadas.
IA Contra a Evasão Escolar em Saitama
Na cidade de Toda, na província de Saitama, um programa piloto lançado em 2023 utilizou a IA para prever a probabilidade de evasão escolar (truancy) e oferecer apoio preventivo aos alunos.
O sistema de IA foi treinado com dados como registros de ausências, atrasos, resultados de pesquisas acadêmicas, exames de saúde e histórico de bullying. O objetivo era identificar padrões de estudantes que já haviam faltado às aulas.
- A IA gerava previsões numéricas para cada aluno, exibindo nomes com cores de risco: vermelho, rosa, laranja ou amarelo.
- Durante o teste, a IA sinalizou 1.193 alunos em risco, dos quais 265 foram priorizados para apoio pelas escolas.
- Em uma escola primária, 10 alunos que poderiam ter passado despercebidos foram identificados para receber ajuda extra.
Embora promissora, a iniciativa levanta a questão sensível de atribuir pontuações a crianças e as preocupações com a privacidade. Especialistas, como a professora Makiko Nakamuro da Universidade Keio, alertam contra a dependência excessiva da tecnologia e enfatizam que a IA deve ser complementada pelo julgamento humano e por explicações claras a pais e alunos.
Aperfeiçoando a Conversação em Inglês
A IA também está entrando nas salas de aula para resolver um desafio de longa data na educação japonesa: a confiança na fala do inglês.

Universidades como Waseda, Kansai, Chuo, Meiji e Kyushu, além de escolas de ensino médio em Gifu, adotaram um sistema desenvolvido pela startup Equmenopolis que atua como parceiro de conversação em inglês.
- O sistema interage com os alunos por cerca de 20 minutos, analisando gramática, vocabulário, pronúncia, tempo de resposta e até expressões faciais.
- Ele pontua o desempenho em uma escala de seis pontos e oferece feedback.
- Muitos alunos relataram sentir-se menos nervosos ao falar com a IA do que com uma pessoa, permitindo-lhes praticar em seu próprio nível.
O CEO da Equmenopolis, Yoichi Matsuyama, ressalta que o sistema resolve o problema de tempo do professor, possibilitando que cada aluno pratique individualmente.
Preservação da Memória de Sobreviventes da Bomba Atômica
Em uma aplicação profundamente comovente, o governo da província de Kanagawa está usando a IA para preservar a memória de sobreviventes da bomba atômica (Hibakusha).
Em março de 2025, o “Sistema Contador de Histórias de IA” será testado no Kanagawa Peace Memorial Hall em Yokohama.
- O sistema permite que visitantes façam perguntas e ouçam respostas gravadas de sobreviventes.
- O testemunho de Hiroshi Nishioka, sobrevivente de Nagasaki de 93 anos, foi dividido em cerca de 130 tópicos. A IA seleciona e reproduz a resposta mais relevante para a pergunta.
- A intenção de Nishioka é garantir que suas memórias permaneçam vivas, pois “há cada vez menos sobreviventes”.

Desenvolvedores garantem que a IA nunca inventará ou alterará o que os indivíduos disseram, apenas reproduzindo o testemunho real, uma salvaguarda essencial para respeitar a sensibilidade do tema. A cidade de Hiroshima também está desenvolvendo um dispositivo semelhante para seu Museu Memorial da Paz.
Com informações via Mainichi Shimbun
