Mulher de 77 anos gasta quase toda a aposentadoria em teleshopping, revelando um problema crescente entre idosos japoneses solitários.
Uma mulher de 77 anos, moradora de Osaka, transformou o teleshopping em parte central de sua rotina nos últimos dez anos, acumulando dívidas e conflitos familiares. O caso, relatado por seu filho de 49 anos, evidencia como o isolamento e a solidão podem levar idosos japoneses ao consumo compulsivo em programas de compras televisivas.
A idosa, que vive com o marido e o filho, começou fazendo pequenas compras esporádicas, mas nos últimos anos passou a ligar repetidamente para os canais de venda, atraída por frases como “oferta por tempo limitado” e “as linhas estão congestionadas”. Os produtos se acumularam pela casa: comidas congeladas, cosméticos, roupas, utensílios domésticos e até tapetes impermeáveis.
“Ela gasta tudo o que tem, mas acredita que está economizando. Diz que o teleshopping ajuda nas despesas da casa”, contou o filho, identificado apenas como Manabu Sato (nome fictício).
Mesmo após discussões e tentativas de limitar os gastos, a mãe continuou comprando. Em um episódio tenso no fim de junho, uma briga por causa de um toldo de 7 mil ienes terminou em agressão leve. No dia seguinte, no entanto, a mulher voltou a ligar para comprar panquecas congeladas e uma chapa elétrica.
Um vício disfarçado de rotina doméstica
O filho percebeu que o comportamento da mãe se parecia com um vício emocional, comparando-o a doações exageradas em seitas religiosas ou clubes de entretenimento.
“O teleshopping absorveu a solidão dela e transformou isso em consumo”, disse.
A mulher, antes ativa e sociável, deixou de sair de casa há cerca de dez anos, após desenvolver tonturas causadas por problemas de tireoide. Passou então a passar os dias assistindo TV e a tratar os operadores das centrais de venda como “companheiros de conversa”.
“As atendentes a tratam com gentileza, quase como criados fiéis. Era o único contato social que ela tinha”, explicou o filho.
Problema comum e de difícil solução
De acordo com o Centro Nacional de Assuntos do Consumidor do Japão, cerca de 8.700 casos de problemas com compras pela TV foram registrados no ano de 2024. Entre eles, 77% envolviam pessoas com mais de 70 anos — um aumento em relação aos 61% de 2019.
As empresas de vendas por TV afirmam seguir as leis de proteção ao consumidor e negar práticas abusivas, embora reconheçam que os anúncios costumam ser intensos, com apresentadores exaltando os produtos e criando senso de urgência.
Uma grande companhia de Tóquio informou ter limites para compras de alto valor e uma equipe jurídica que monitora os programas para evitar propaganda enganosa.
Entre o consumo e a solidão
O caso da mulher de Osaka expõe um dilema social crescente no Japão: como proteger idosos autônomos, mas emocionalmente vulneráveis, de comportamentos de consumo excessivo.
Manabu afirma que chegou a considerar bloquear os canais de teleshopping, mas teme tirar da mãe o que restou de prazer em sua rotina.
“Ela não tem demência, apenas está sozinha. O problema é que ninguém sabe onde termina o livre-arbítrio e começa o vício”, concluiu.
Com o envelhecimento da população e o aumento do isolamento social, especialistas alertam que o vício em compras entre idosos pode se tornar um novo desafio para o Japão — e que medidas educativas e regulatórias serão cada vez mais necessárias para equilibrar consumo e bem-estar.
