Mesmo com novos planos nacionais, o mundo continua longe de limitar o aquecimento a 1,5 °C; saída dos EUA do Acordo de Paris agrava cenário.
Um novo relatório das Nações Unidas revelou que os esforços mundiais para combater as mudanças climáticas continuam muito abaixo do necessário para limitar o aumento da temperatura global. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as metas mais recentes apresentadas pelos países “mal moveram o ponteiro” na redução do aquecimento da Terra.
Os planos atualizados, que fazem parte das obrigações do Acordo de Paris de 2015 e devem ser apresentados a cada cinco anos, reduziram em apenas 0,3 °C as projeções de aquecimento futuro — uma melhora considerada pequena diante da urgência climática.
O relatório destaca ainda que parte desse avanço foi anulada pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, decisão tomada pelo governo Trump. A saída americana, somada à reversão de políticas ambientais e ao enfraquecimento de projetos de energia limpa, deve acrescentar 0,1 °C ao aquecimento global.
“Cada décimo de grau faz diferença para as comunidades e ecossistemas vulneráveis”, afirmou Adelle Thomas, vice-presidente de um painel científico da ONU. “Isso afeta as ondas de calor, o branqueamento dos corais e a elevação do nível do mar.”
De acordo com o PNUMA, se os países cumprirem suas atuais promessas de redução de emissões, a Terra deve aquecer entre 2,3 °C e 2,5 °C até o fim do século. As políticas atuais, no entanto, colocam o mundo no caminho de 2,8 °C de aquecimento — muito acima da meta internacional de 1,5 °C.
O planeta já aqueceu cerca de 1,2 °C desde o período pré-industrial, impulsionado principalmente pela queima de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural.
A diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen, reconheceu avanços desde o Acordo de Paris, mas reforçou a necessidade de ação imediata:
“Estamos fazendo progressos, mas precisamos ir muito mais rápido.”
Com a saída dos EUA, o restante do mundo terá de cortar 2 bilhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono por ano para compensar o aumento das emissões americanas, segundo o relatório. Em 2024, as emissões globais chegaram a 57,7 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, e esse número precisa cair para cerca de 33 bilhões por ano para manter o aquecimento dentro de níveis seguros.
Os dados chegam às vésperas da próxima Conferência do Clima da ONU (COP), que será realizada em Belém, no Brasil, e devem servir de alerta para os líderes mundiais sobre a urgência de acelerar as ações climáticas globais.
