A pequena Choshi Electric Railway, perto de Tóquio, sobrevive vendendo lanches, usando humor e agora firmando parceria inusitada com Nauru
Uma pequena ferrovia na cidade costeira de Choshi, em Chiba, está chamando atenção por suas ideias criativas para sobreviver à crise financeira. A Choshi Electric Railway, que opera uma linha de apenas 6,4 quilômetros, encontrou uma nova forma de se manter nos trilhos: humor, produtos próprios e até uma parceria internacional.
No dia 23 de outubro, a companhia inaugurou o Pavilhão da República de Nauru, um pequeno museu dentro da estação Kasagami-Kurohae, agora oficialmente chamada República de Nauru Kasagami-Kurohae Station. A ação celebra a amizade entre o Japão e Nauru, uma pequena ilha-nacão do Pacífico.
O museu exibe roupas tradicionais e itens culturais usados no pavilhão de Nauru durante a Expo 2025 Osaka, encerrada recentemente. A representante de Nauru, Shandi Akken, viajou ao Japão para participar da cerimônia, acompanhada do mascote Nauru-kun.
“Espero que esta estação e o museu se tornem um novo ponto de amizade entre Japão e Nauru”, disse Akken, acrescentando que o país planeja futuras trocas culturais com cidades japonesas, incluindo Choshi.
A conexão inusitada começou nas redes sociais, após uma troca de mensagens no X (antigo Twitter) entre a ferrovia e a conta de turismo de Nauru no Japão. O resultado foi um acordo de direitos de nomeação para a estação — o primeiro envolvendo um país estrangeiro desde que a empresa começou a vender nomes de estações como forma de arrecadar fundos.
Criatividade contra a crise
A Choshi Electric Railway, fundada em 1923, já transportou mais de 2,5 milhões de passageiros por ano nos anos 1950. Hoje, o número caiu para cerca de 650 por dia, com apenas 10% sendo passageiros regulares. O restante são turistas — atraídos, em grande parte, pelas campanhas bem-humoradas da empresa.
Em meio a dificuldades financeiras agravadas pela pandemia de COVID-19, a ferrovia lançou o projeto “Gakeppuchi” (à beira do penhasco), brincando com sua situação crítica e com as falésias costeiras de Cape Inubo. Em julho, a empresa realizou até um “Gakeppuchi Summit”, reunindo negócios locais que também enfrentam tempos difíceis.
“Todos estão tentando melhorar o desempenho e superar suas situações de penhasco”, disse o presidente Katsunori Takemoto, de 63 anos.
Dos trilhos à cozinha
Para manter o trem em funcionamento, a ferrovia diversificou suas atividades. Hoje, cerca de 70% da receita vem da venda de alimentos, como o “nure sembei”, um tipo de biscoito de arroz macio típico da região. A fábrica da empresa produz cerca de 15 mil unidades por dia, dobrando em feriados.
Em 2018, a empresa lançou o “Mazuibo”, um lanche apelidado de “bastão de gosto ruim” — uma paródia irônica do famoso snack japonês “Umaibo” (“bastão delicioso”). O produto se tornou um sucesso, com mais de 7 milhões de unidades vendidas.
“Sem esses produtos, a ferrovia provavelmente já teria fechado”, contou Kazunari Suzuki, funcionário da empresa há 26 anos.
A ferrovia também estimula o turismo local, conectando visitantes ao porto pesqueiro de Choshi, conhecido por seus peixes frescos. O chef Yuki Yamamoto, dono do restaurante Maguro Gura, próximo ao porto, elogiou os esforços da ferrovia.
“Eles estão fazendo algo incrível. Vendem produtos, promovem a cidade e até fizeram um filme. Isso ajuda muito o comércio local”, disse Yamamoto.
Mesmo com o aumento dos custos de ingredientes e a queda no número de passageiros, o presidente Takemoto afirma que a empresa pretende continuar operando.
“Queremos seguir rodando trens para a comunidade local. Com o apoio das pessoas, esperamos sair da beira do penhasco”, declarou.
Com humor, criatividade e uma inesperada amizade internacional, a Choshi Electric Railway mostra que até uma pequena ferrovia pode se reinventar — e inspirar outros negócios a fazer o mesmo.
