Conferência da ONU sobre o clima reúne líderes às margens da Amazônia com foco em cooperação e aceleração das metas para reduzir emissões de carbono
A COP30, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, começa nesta segunda-feira (10) em Belém (PA), às margens da Amazônia, com líderes globais pedindo união, cooperação e ação urgente para conter o aquecimento global.
O presidente da conferência, o diplomata André Corrêa do Lago, destacou em carta aos negociadores a importância do “mutirão”, termo de origem indígena que simboliza o trabalho coletivo em prol de um objetivo comum.
“Ou decidimos mudar por escolha, juntos, ou a tragédia nos imporá a mudança”, escreveu Corrêa do Lago. “Podemos mudar. Mas precisamos fazer isso juntos.”
A COP30 marca mais de 30 anos de negociações climáticas, com foco em reduzir drasticamente a poluição de carbono — principal responsável pelo aquecimento do planeta. No entanto, as discussões ocorrem em meio a tensões políticas e à retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, tratado global firmado em 2015 para limitar o aumento da temperatura média do planeta.
Ausência dos EUA gera críticas
O governo do presidente Donald Trump não enviou representantes de alto nível à COP30 e formalizou a saída dos EUA do Acordo de Paris pela segunda vez, provocando forte reação internacional.
Os Estados Unidos são o maior emissor histórico de dióxido de carbono (CO₂), gás do efeito estufa resultante da queima de carvão, petróleo e gás natural. Embora a China lidere atualmente as emissões anuais, grande parte do CO₂ acumulado na atmosfera vem de fontes norte-americanas.
A embaixadora de Palau, Ilana Seid, que preside a Aliança dos Pequenos Estados Insulares, criticou a decisão americana.
“O ambiente geopolítico está particularmente desafiador. A saída dos EUA do Acordo de Paris muda toda a dinâmica das negociações”, afirmou.
O ex-enviado especial dos EUA para o clima, Todd Stern, também condenou a postura do governo americano.
“É até positivo que não tenham enviado ninguém. Se fossem, não ajudariam em nada”, disse Stern.
Metáfora de cooperação global
A cientista-chefe da The Nature Conservancy, Katharine Hayhoe, comparou as negociações climáticas a um “almoço coletivo”:
“Cada país traz sua contribuição, seja um novo plano ou metas mais ambiciosas de corte de carbono. É fácil perceber quem preparou algo novo e quem apenas trouxe sobras congeladas do freezer”, ironizou.
Segundo Hayhoe, os Estados Unidos não levarão nenhum ‘prato’ à mesa, mas estados, cidades e empresas americanas estão comprometidos em manter ações climáticas em curso, compensando parcialmente a ausência federal.
Apelo da ONU: acelerar e conectar ações à vida real
O secretário-executivo da ONU para o Clima, Simon Stiell, afirmou em carta divulgada no domingo (9) que o Acordo de Paris, com 10 anos de existência, está funcionando “em parte”, mas que é preciso acelerar a ação global — especialmente na Amazônia.
“Os danos climáticos devastadores já estão acontecendo: furacões no Caribe, supertufões no Sudeste Asiático e tornados no sul do Brasil”, alertou Stiell.
Ele pediu que as nações liguem as políticas climáticas às necessidades reais das pessoas, destacando que a crise climática já afeta comunidades no mundo todo.
Com o desafio de unir países em um momento político conturbado, a COP30 em Belém busca fortalecer o compromisso global de reduzir emissões, proteger florestas e garantir justiça climática, especialmente para povos indígenas e nações vulneráveis.
O sucesso das negociações poderá definir o ritmo das próximas décadas na luta mundial contra o aquecimento global.
