Empresas de Oizumi admitem dependência de estrangeiros: japoneses recusam trabalhos pesados e horas extras, tornando a mão de obra imigrante vital.
A cidade de Oizumi, na província de Gunma, conhecida por sua alta concentração de residentes estrangeiros, tornou-se um microcosmo da crise demográfica e trabalhista do Japão. Em entrevistas recentes ao jornal Mainichi Shimbun, empresários locais revelaram uma realidade urgente: apesar do aumento dos custos de contratação, eles não têm outra escolha a não ser contratar estrangeiros para manter suas operações vivas.
O Fim da Mão de Obra Japonesa em Trabalhos “3K”

Tomoaki Yuzawa, presidente da Yuzawa AI (uma empresa de capas para assentos de carros), viu a demografia de sua empresa mudar drasticamente desde que se tornou independente em 2013. Inicialmente composta por japoneses, hoje dois terços de sua força de trabalho de 50 pessoas são estrangeiros, principalmente estagiários técnicos vietnamitas e filipinos.
O motivo? Os jovens japoneses perderam o interesse na manufatura, frequentemente rotulada como trabalho “3K” — kitsui (difícil), kitanai (sujo) e kiken (perigoso).
“Consegui manter minha empresa funcionando graças aos estrangeiros”, admite Yuzawa.
Ele destaca a confiabilidade desses trabalhadores. Em um modelo de negócios enxuto, a falta de um único funcionário pode parar a linha de produção. “O mais importante é nunca deixar uma lacuna no trabalho. Eles são muito sérios. Eles nunca faltam ao trabalho, não importa o que aconteça”, elogiou.
Horas Extras e a Disposição para Trabalhar
Outra empresa de manufatura em Oizumi relatou um cenário semelhante. Enquanto as reformas de estilo de trabalho no Japão enfatizam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, as pequenas e médias empresas ainda enfrentam prazos de entrega rigorosos.
Segundo um representante da empresa, os funcionários japoneses começaram a recusar horas extras, mesmo em picos de produção.
- A Lacuna: Quem preenche essa lacuna são os estrangeiros, dispostos a trabalhar além do horário para ganhar dinheiro.
- Mito do Salário Baixo: “A razão pela qual contratamos estrangeiros não é porque seus salários são baixos, mas porque eles são os únicos que trabalham duro quando as coisas ficam movimentadas”, afirmou o representante.
Altos Salários Não Atraem Locais
A gravidade da escassez de mão de obra ficou evidente em um caso relatado por Masayuki Hashimoto, presidente de uma empresa de recrutamento de trabalhadores. Ele recebeu um pedido para enviar pessoal para transportar maçãs colhidas em Hirosaki (Aomori).
A oferta era generosa: cerca de 2.000 ienes (aprox. US$ 12,90) por hora. Hashimoto esperava uma enxurrada de candidatos japoneses locais devido ao alto salário.
- Resultado: Apenas um japonês (na faixa dos 60 anos) se candidatou.
- Solução: A empresa teve que despachar estrangeiros, principalmente descendentes de japoneses, para preencher as vagas.
O presidente Yuzawa resume o sentimento geral dos empresários: “Afinal, nós imploramos para que estrangeiros trabalhem para nós porque os japoneses não o farão. O Japão está colocado nessa posição. Honestamente, acho estranho, mas não temos escolha”.

Impacto para a Comunidade Nipo-Brasileira
Ōizumi é casa de milhares de dekasseguis brasileiros e peruanos de origem japonesa, muitos terceira geração que vieram nos anos 90 e nunca mais saíram. São eles que:
- Mantêm linhas de produção de Subaru, Honda e fornecedores Tier-1 em Gunma e Tochigi
- Aceitam turnos 3K (kitsui, kitanai, kiken) que jovens japoneses rejeitam
- Enviam remessas recordes para Brasil e Peru
- Criam escolas bilíngues, igrejas e até carnaval brasileiro na cidade
Sem essa força de trabalho, cidades como Ōizumi, Hamamatsu, Toyota-shi e Toyohashi simplesmente parariam.
Com informações via Mainichi Shimbun
