Tottori enfrenta crise na contratação de professores apesar de aumento de candidatos

Mesmo com provas antecipadas e mais inscritos, número de aprovados que recusam vaga segue alto e deixa escolas sem novos docentes

Em uma manhã úmida de junho, centenas de candidatos entraram nos locais de prova em Tottori, no oeste do Japão, para disputar vagas de professor e ajudar a formar a próxima geração do país. Mas a concorrência foi dura: apenas 74 dos 557 candidatos garantiram vaga para atuar nas escolas primárias da cidade— o menor índice de sucesso do Japão para o próximo ano letivo. Nas escolas de ensino fundamental II, a situação foi ainda mais apertada, com 1 aprovado para cada 11 candidatos.

Apesar desse quadro, Tottori é um ponto fora da curva. Segundo o Ministério da Educação, os concursos realizados em 2023 para contratação em 2024 registraram o menor número de candidatos por vaga da história em todos os níveis escolares. Nas escolas primárias, foram apenas 2,2 candidatos por vaga, uma queda acentuada em relação a anos anteriores.

Especialistas apontam que o principal problema é o descompasso no calendário. As provas públicas costumam ocorrer depois que escolas privadas já realizaram suas seleções, levando muitos dos melhores candidatos a aceitar ofertas antes mesmo de as vagas públicas abrirem.

Para tentar atrair mais concorrentes, regiões rurais em queda populacional, como Tottori, anteciparam seus exames para junho a partir de 2020. Sem cursos de formação docente dentro da cidade, Tottori depende de candidatos de fora. “Não temos escolha a não ser facilitar ao máximo a participação deles”, afirmou um representante do conselho educacional local. O ajuste ajudou a aumentar o número de inscritos — mas não resolveu o problema principal.

O desafio agora é outro: muitos aprovados não querem assumir o cargo. No processo seletivo de 2024 em Tottori, 129 dos 203 aprovados para escolas primárias recusaram a oferta. O mesmo ocorre em outras regiões. Em Kochi, onde o exame para 2025 ocorreu em 1º de junho, mais de 70% dos aprovados rejeitaram a vaga.

Uma das medidas adotadas — criar locais de prova em Osaka para facilitar o acesso — acabou gerando efeito contrário. Muitos candidatos usam essa oportunidade apenas para “treinar”, sem intenção real de trabalhar em Tottori. “O local em Osaka atrai muitos candidatos sem ligação com a cidade, e o índice de recusas é especialmente alto lá”, lamentou um funcionário do conselho educacional.

Com o calendário mudando, o problema essencial permanece: atrair e manter professores. Cada vez mais candidatos participam de concursos em várias cidades ao mesmo tempo, enquanto algumas cidades voltam a investir em formação interna.

Tentando reverter o quadro, Tottori pediu à Universidade de Tottori o reforço dos programas de formação docente. Desde 2004, a maioria das formações havia sido transferida para a Universidade de Shimane, e o número de graduados que permanecem vem diminuindo. A instituição anunciou que, a partir de 2027, o curso voltará a ter “educação” no nome, passando a se chamar Curso de Ciências da Educação.

O governador Shinji Hirai afirmou que a mudança é apenas “um primeiro passo”, indicando que mais reformas são necessárias.

Enquanto isso, o impacto já é sentido nas escolas. Um professor de ensino médio, na casa dos 40 anos, relatou que vê o ambiente de trabalho envelhecer e enfrentar dificuldades com tecnologia. “Vai ficar mais difícil se os jovens não vierem”, alertou.