Nova pesquisa revela que a ansiedade pública sobre a extinção da família imperial atingiu níveis críticos. Com apenas um herdeiro jovem restante, a maioria da população pede reformas urgentes que favoreceriam a Princesa Aiko.
Uma extensa pesquisa de opinião pública conduzida pelo jornal Yomiuri Shimbun entre setembro e outubro trouxe à tona o dilema existencial da monarquia mais antiga do mundo. Os dados revelam que 69% dos cidadãos japoneses são favoráveis à revisão da Lei da Casa Imperial para permitir que mulheres ascendam ao trono, enquanto apenas 7% se declararam contrários.
O levantamento, realizado via correio com 3.000 eleitores (obtendo 2.004 respostas), indica que o apoio à mudança não é um fenômeno passageiro, mas uma tendência consolidada: em pesquisas similares de 2018, 2020 e 2022, o apoio também orbitou a casa dos 70%.
A Matemática da Extinção: Apenas Três Herdeiros Restam
A urgência por trás desses números reside na demografia atual da Família Imperial. O grupo é composto hoje por apenas 16 pessoas. Sob as regras estritas da Lei da Casa Imperial, que exige que o imperador seja do sexo masculino e descendente de uma linhagem paterna ininterrupta, existem apenas três pessoas no mundo inteiro na linha de sucessão do atual Imperador Naruhito (65 anos):
- Príncipe Fumihito (Akishino): Irmão do imperador, com 60 anos.
- Príncipe Hisahito: Sobrinho do imperador, com 19 anos.
- Príncipe Masahito (Hitachi): Tio do imperador, com 90 anos.
O cenário é alarmante. O Imperador Naruhito e a Imperatriz Masako (62 anos) têm apenas uma filha, a Princesa Aiko (24 anos), que é excluída da sucessão pelo gênero. O Príncipe Masahito, devido à idade avançada, não representa estabilidade a longo prazo. O Príncipe Fumihito, também sexagenário, não deve reinar por muitas décadas.
Isso coloca o peso de mil anos de história inteiramente sobre os ombros do jovem Príncipe Hisahito. Se ele não assumir o trono, ou se assumir e não tiver filhos homens, a linhagem imperial será extinta.

A Distinção Crucial: “Imperatriz” vs. “Linhagem Feminina”
A pesquisa do Yomiuri aprofundou-se em um ponto técnico que divide os conservadores: a diferença entre uma mulher reinar (Josei Tenno) e a criação de uma dinastia de linhagem materna (Jokei Tenno).
- Imperatriz Reinante (Josei): Mulheres já ocuparam o trono japonês no passado (como a Imperatriz Suiko e a Imperatriz Kogyoku), mas sempre como “guardiãs temporárias” e viúvas ou filhas de imperadores da linhagem masculina.
- Linhagem Feminina (Jokei): Isso ocorreria se o filho de uma imperatriz (como um futuro filho da Princesa Aiko com um plebeu) subisse ao trono. Isso nunca aconteceu na história registrada do Japão.
Surpreendentemente, a população parece disposta a quebrar esse tabu histórico. Quando questionados se o Japão deveria manter apenas a linhagem masculina ou permitir a linhagem feminina:
- 64% disseram que “é melhor permitir a linhagem feminina” (o que abriria caminho para os filhos de Aiko).
- 13% insistiram que “é melhor manter a linhagem masculina”.
- 22% não souberam opinar.
Os dados mostram ainda que as mulheres são estatisticamente mais favoráveis a ambas as mudanças do que os homens.
O Fator Aiko e a Voz das Redes Sociais
Embora a pesquisa trate de leis abstratas, para grande parte do público, a discussão tem nome e rosto: Princesa Aiko. Como filha única do atual Imperador, ela goza de imensa popularidade.
Nas redes sociais, a reação aos dados foi intensa. Muitos interpretam os 69% de aprovação como um voto de confiança direto em Aiko, motivado pela ansiedade em relação à casa do Príncipe Akishino.
“A maioria já é a favor, provavelmente assumindo a sucessão de Aiko. E é porque há insatisfação e ansiedade com a sucessão da casa de Akishino. Abram os olhos e vejam bem”, comentou um internauta.
Outro ponto levantado nas redes é a confusão sobre os termos. Um comentário viral explicou: “Mulheres imperatrizes existiram na história. O que nunca existiu é o ‘Jokei’ (Linhagem Feminina), onde o pai não é da realeza. É por isso que Aiko subir ao trono não é problema histórico, o problema é o que vem depois dela (seus filhos).”
Por outro lado, conservadores argumentam que a tradição não deve se curvar às estatísticas: “A sucessão imperial não é decidida pela vontade popular. Se fosse assim, o Príncipe Naruhito teria sido removido no passado durante movimentos de oposição.”

Inércia Política e o Chamado por Ação
A pesquisa revelou que 68% dos japoneses sentem ansiedade de que a sucessão se torne difícil no futuro. Consequentemente, 67% acreditam que o Parlamento (Diet) deve chegar a uma conclusão sobre medidas para assegurar o número de membros da família imperial “o mais rápido possível”.
Apesar de ser uma pesquisa postal — que tende a atrair um público mais velho e conservador, ao contrário de enquetes online dominadas por jovens “progressistas” — o apoio à reforma é esmagador. Isso sugere que a aceitação de uma Imperatriz não é apenas um capricho moderno, mas uma preocupação pragmática compartilhada por idosos e tradicionalistas que temem o fim da instituição.
O jornal Yomiuri Shimbun, em maio, já havia proposto quatro medidas para estabilizar a sucessão, incluindo:
- Priorizar a continuidade da linhagem imperial.
- Manter o sistema do Imperador como símbolo.
- Criação de ramos femininos da família imperial (Josei Miyake), permitindo que princesas permaneçam na família após o casamento.
- Possibilidade de adoção de herdeiros de antigos ramos nobres.
Agora, cabe aos legisladores decidir se ouvem o clamor de 70% da população ou se mantêm a aposta arriscada na única carta que resta no baralho: o jovem Príncipe Hisahito.
Com informações via Yomiuri Shimbun, Jin via SoraNews
