Nuvens de poeira criadas por choques no espaço enganaram cientistas por décadas
O telescópio espacial Hubble, da NASA, conseguiu observar os efeitos de duas raras colisões cósmicas e ajudou cientistas a resolver um mistério que intrigava a astronomia há décadas.
Anos atrás, pesquisadores detectaram um ponto brilhante e denso próximo a uma estrela jovem chamada Fomalhaut, localizada relativamente perto da Terra. Na época, acreditava-se que aquele brilho poderia ser um planeta, e ele passou a ser acompanhado ao longo do tempo.
Em 2023, porém, novas imagens do Hubble mostraram algo inesperado: o ponto brilhante havia desaparecido e outro surgiu em seu lugar. Isso indicou que não se tratava de um planeta, mas de algo diferente.
Os cientistas concluíram que estavam observando detritos de duas grandes colisões no espaço. Rochas espaciais gigantes colidiram entre si, formando nuvens de poeira tão densas que chegaram a parecer planetas. Com o passar do tempo, esse material se espalhou e acabou sumindo.
Segundo os pesquisadores, as rochas envolvidas nesses choques tinham pelo menos 60 quilômetros de largura. Registrar esse tipo de evento é muito raro, já que teorias indicam que colisões desse porte acontecem na mesma região apenas uma vez a cada 100 mil anos.
“É altamente inesperado que essa área tenha apresentado duas colisões grandes e diferentes em apenas 20 anos”, afirmou Joshua Lovell, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, que não participou do estudo publicado na revista Science.
Os cientistas ainda não sabem se a observação foi apenas um golpe de sorte ou se essas colisões são mais comuns do que se imaginava. Mais dados serão necessários para chegar a uma conclusão.
Choques entre grandes rochas espaciais são fundamentais para entender como planetas como a Terra se formam. “Estudar isso é como ver uma foto da infância do nosso sistema solar”, explicou a astrofísica Meredith MacGregor, da Universidade Johns Hopkins, que também não participou da pesquisa.
A equipe científica pretende acompanhar a nova nuvem de poeira nos próximos anos para observar como ela evolui e, aos poucos, se desfaz.
A estrela Fomalhaut fica a apenas 25 anos-luz da Terra, dentro da chamada vizinhança cósmica. Um ano-luz equivale a quase 6 trilhões de milhas.
Ao manter essa região sob observação, os astrônomos dizem que estão conseguindo acompanhar “explosões violentas em tempo real”, segundo Paul Kalas, autor do estudo e pesquisador da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
