Pesquisa revela que japoneses que abandonaram o envio de Nengajo sentem falta da conexão emocional e planejam retomar a tradição de forma seletiva.
Enquanto no ocidente o envio de cartões físicos de Natal e aniversário tem diminuído drasticamente em favor de mensagens digitais, o Japão mantém uma tradição robusta que enfrenta agora o seu maior teste. Trata-se do Nengajo (年賀状), os cartões postais de Ano Novo que, por décadas, foram um pilar da etiqueta social japonesa.
Recentemente, a conveniência dos aplicativos de mensagens ameaçou esse costume, mas uma nova pesquisa indica que o mundo digital pode não estar preenchendo o vazio emocional deixado pelo papel e tinta.

O Que é o Nengajo?
No Japão, é costume enviar cartões físicos para amigos, parentes e colegas de trabalho, programados meticulosamente para serem entregues pelos correios na manhã do dia 1º de janeiro. O volume é tão grande que os correios japoneses contratam funcionários temporários apenas para garantir essa logística massiva.
Os cartões variam desde designs clássicos com motivos sazonais e o animal do zodíaco chinês do ano, até versões modernas com personagens de animes populares como Demon Slayer. Muitos incluem um número de loteria, permitindo que os destinatários concorram a prêmios como selos comemorativos, eletrodomésticos e vouchers de viagem.

Demon Slayer (Imagem via SoraNews)
O Fenômeno “Nengajo-jimai”
Nos últimos anos, com a ascensão de aplicativos como o LINE e outras redes sociais, surgiu uma tendência conhecida como Nengajo-jimai (年賀状じまい), que significa literalmente “encerrar o Nengajo”.
Para entender essa mudança de atitude, a empresa de impressão japonesa Futaba realizou uma pesquisa com 200 pessoas que haviam parado de enviar os cartões.
- 80% dos entrevistados pararam de enviar os cartões nos últimos cinco anos.
- A principal razão citada foi a percepção de que mensagens digitais eram “suficientes”.
- Muitos consideravam o preparo dos cartões durante a correria de fim de ano um esforço excessivo.

O Vazio das Mensagens Digitais
No entanto, a pesquisa revelou um sentimento surpreendente: o arrependimento. Após cessarem o envio, muitos participantes perceberam que a experiência digital era qualitativamente inferior.
- Impessoalidade: Mensagens em redes sociais muitas vezes pareciam apressadas, resumindo-se a um único “sticker” ou emoji.
- Perda de Contato: O Nengajo era, para muitos, o único ponto de contato regular com parentes e amigos distantes. Sem ele, esses laços se desfizeram.
- Nostalgia do Ritual: As pessoas sentiram falta do ritual simples de abrir a caixa de correio no dia de Ano Novo.
Apesar da intenção de facilitar a vida ao abandonar a tradição, o resultado para muitos foi uma sensação de vazio emocional. Segurar um cartão físico, ver a caligrafia de alguém e saber que aquela pessoa dedicou tempo para preparar o envio criou uma sensação de calor humano que o digital não conseguiu replicar.
Um Retorno Equilibrado
O estudo apontou que mais da metade dos entrevistados gostaria de voltar a enviar cartões de Ano Novo, mesmo que ocasionalmente. A tendência, contudo, não é voltar às listas massivas de antigamente, enviadas por pura obrigação social.
O novo foco é a qualidade sobre a quantidade. As pessoas indicaram o desejo de enviar cartões apenas para amigos íntimos, familiares próximos ou pessoas que lhes deram suporte durante o ano, tornando a tradição muito mais pessoal e menos trabalhosa.

Nenhum dos entrevistados relatou sentir-se incomodado ao receber um cartão; pelo contrário, sentiram-se felizes e lembrados. Para muitos japoneses, mesmo neste mundo digital acelerado, o Nengajo permanece como uma oportunidade anual valiosa de pausar, refletir sobre os relacionamentos e começar o ano com um gesto sincero.
Com informações de Futaba Nengajo, Rokkaku Nengajo, Futaba Rakuten Shop via SoraNews
