Japão pode cortar juros por causa de tarifas dos EUA, diz oposição

Yuichiro Tamaki, do Partido Democrático do Povo (PDP), sugere reversão na política monetária e critica retirada gradual dos estímulos

Em meio às crescentes incertezas econômicas causadas pelas novas tarifas dos Estados Unidos, o líder do Partido Democrático do Povo (PDP), Yuichiro Tamaki, afirmou nesta terça-feira, dia 8, que o Banco do Japão (BOJ) pode ser forçado não apenas a interromper os planos de aumento de juros, mas também a considerar um corte na taxa básica, caso o impacto tarifário seja severo para a economia japonesa.

“O Japão pode precisar adotar medidas econômicas completas por meio do afrouxamento monetário, dependendo da situação. Este definitivamente não é o momento para aumento de juros”, declarou Tamaki a jornalistas em Tóquio.

A fala acontece em um momento de reversão na percepção do mercado sobre o rumo da política monetária japonesa. Até a semana passada, muitos analistas apostavam em um novo aumento de juros em junho ou julho, possivelmente já na reunião do dia 1º de maio. Com as tarifas impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump, especialmente sobre produtos como automóveis e aço, economistas agora duvidam que o BOJ consiga elevar os juros ainda este ano.

O impacto nos mercados foi imediato: os contratos futuros indicam agora menos de 50% de chance de novo aumento de juros até o fim do ano, segundo os dados de “overnight indexed swaps”. Há poucos dias, essa probabilidade passava de 50%.

Tamaki, ex-burocrata do Ministério das Finanças, destacou que a inflação e os preços altos estão criando uma situação “muito severa”, o que exige políticas fiscais e monetárias ativas.

“Até que consigamos uma elevação estável dos salários nominais em torno de 2%, além da inflação, nossa principal estratégia deve ser usar todos os instrumentos possíveis”, afirmou.

Desde março do ano passado, o governador Kazuo Ueda elevou os juros três vezes, mas insiste que o movimento é uma “normalização gradual da política de afrouxamento”, e não uma política restritiva de fato.

Paralelamente, a decisão do BOJ de reduzir compras de títulos públicos também foi criticada por Tamaki. O plano tem cortado cerca de ¥400 bilhões (R$ 13,2 bi) por trimestre desde o ano passado, e será reavaliado em junho. Tamaki questionou se é apropriado continuar apenas reduzindo, sugerindo uma revisão completa do plano.

“Estamos entrando numa situação em que é preciso refletir se cortar compras de títulos é a única opção certa”, comentou.

Ainda não está claro até que ponto as declarações do PDP influenciarão o rumo do BOJ. Em novembro, Tamaki também havia criticado a alta dos juros antes de março, mas o banco central elevou a taxa para 0,5% em janeiro.

Apesar de o governo minoritário do primeiro-ministro Shigeru Ishiba ter aprovado o orçamento fiscal recente sem o apoio do PDP, a legenda pode se tornar peça-chave nas negociações futuras, especialmente com eleições previstas para julho.

Após um telefonema entre Ishiba e Trump nesta segunda-feira, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que o Japão pode ter prioridade nas negociações tarifárias, o que trouxe otimismo aos mercados financeiros.

Enquanto isso, cresce o debate sobre qual caminho a política monetária japonesa deve seguir diante da fragilidade externa e da pressão inflacionária interna.