Bloqueio no Estreito de Ormuz ameaça China, Índia, Coreia e Japão com risco de crise de petróleo

Mais de 84% do petróleo que passa pelo Estreito de Ormuz vai para a Ásia. Um bloqueio iraniano pode gerar escassez e alta nos preços globais.

Se o Irã decidir bloquear o Estreito de Ormuz em resposta aos ataques dos Estados Unidos às suas instalações nucleares, o impacto pode ser devastador para a economia global, especialmente para a Ásia.

Cerca de 84% do petróleo que passa pelo Estreito de Ormuz tem como destino países asiáticos, como China, Índia, Coreia do Sul e Japão. O estreito é uma das rotas marítimas mais importantes do mundo para o transporte de petróleo e gás natural.

De acordo com dados da Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA), passam diariamente pelo estreito 14,2 milhões de barris de petróleo bruto e 5,9 milhões de barris de outros derivados de petróleo, o que representa aproximadamente 20% da produção global no primeiro trimestre de 2025.

Localização geográfica do Estreito de Ormuz (Imagem/Reprodução: Gaúcha Zero Hora)

O petróleo exportado por países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Kuwait, Catar e o próprio Irã depende quase totalmente dessa rota.

🌏 Quem mais depende do Estreito de Ormuz?

China

A China é uma das maiores afetadas. Mais da metade do petróleo importado pela Ásia Oriental passa pelo Estreito de Ormuz. Só no primeiro trimestre de 2025, os chineses importaram 5,4 milhões de barris de petróleo por dia através dessa rota.

A Arábia Saudita é o segundo maior fornecedor de petróleo da China, com 1,6 milhão de barris diários, cerca de 15% das importações chinesas. Além disso, mais de 90% das exportações de petróleo do Irã vão para a China, que importou 1,3 milhão de barris diários de petróleo iraniano em abril.

Índia

A Índia também é altamente dependente. No primeiro trimestre de 2025, o país importou 2,1 milhões de barris de petróleo por dia via Ormuz. Aproximadamente 53% do petróleo consumido pela Índia vem do Oriente Médio, especialmente de Iraque e Arábia Saudita.

Diante do risco de escalada no Oriente Médio, a Índia aumentou suas compras de petróleo da Rússia nos últimos três anos, buscando reduzir a dependência dessa rota. O ministro indiano do Petróleo, Hardeep Singh Puri, afirmou que o governo está tomando todas as medidas necessárias para garantir o abastecimento interno.

Coreia do Sul

A Coreia do Sul importa 1,7 milhão de barris de petróleo por dia pelo Estreito de Ormuz, o que representa 68% de suas importações totais de petróleo. O país é particularmente dependente da Arábia Saudita, responsável por um terço do petróleo consumido pelos sul-coreanos.

O governo sul-coreano informou que, até o momento, não houve interrupções no fornecimento, mas alertou para o risco de crise caso haja bloqueio no estreito. A Coreia mantém uma reserva estratégica de petróleo equivalente a 200 dias de consumo, como medida de segurança.

Japão

O Japão também está diretamente exposto. O país importa 1,6 milhão de barris de petróleo por dia pelo Estreito de Ormuz. Cerca de 95% do petróleo consumido pelos japoneses vem do Oriente Médio, segundo dados da alfândega japonesa.

Empresas de transporte de energia do Japão já estão adotando medidas para reduzir o tempo dos navios na região do Golfo, como informou a gigante de navegação Mitsui OSK.

🌍 Outros países afetados

Além dos grandes asiáticos, outros 2 milhões de barris de petróleo por dia que passam por Ormuz têm como destino países da Ásia, como Tailândia e Filipinas, além da Europa (0,5 milhão de barris) e dos Estados Unidos (0,4 milhão de barris).

Rotas marítimas dos navios petroleiros que passam pelo Estreito de Ormuz (Imagem/Reprodução: EXAME)

🚫 Alternativas são limitadas

Embora os países asiáticos tentem diversificar seus fornecedores, substituir os volumes vindos do Oriente Médio é extremamente difícil.

Segundo especialistas do banco MUFG, mesmo com estoques elevados, capacidade ociosa da OPEP+ e produção adicional dos EUA, um bloqueio total do Estreito de Ormuz ainda causaria uma crise significativa no mercado de energia.

Alguns países, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, possuem oleodutos para exportar petróleo sem passar por Ormuz, mas sua capacidade é limitada a 2,6 milhões de barris por dia, bem abaixo da demanda.

O Irã também possui um oleoduto que leva petróleo até o Golfo de Omã, chamado Goreh-Jask, mas ele está inativo desde 2024 e sua capacidade máxima é de apenas 300 mil barris por dia, insuficiente para suprir qualquer bloqueio prolongado.

⚠️ Risco global

O risco de um bloqueio no Estreito de Ormuz reacende preocupações sobre uma nova crise energética mundial, com alta nos preços dos combustíveis, impactos econômicos na Ásia e efeito cascata em outros mercados, inclusive no Brasil.