Solteiros acima dos 50 anos redescobrem o amor e a vida noturna no Japão pós-pandemia

namoro sênior Japão

Festas em discotecas, aplicativos de namoro e clubes exclusivos impulsionam o mercado crescente de relacionamentos para pessoas entre 50 e 70 anos.

Com luzes de discoteca brilhando e músicas dançantes dos anos 1980, cerca de 100 participantes entre 50 e 70 anos lotaram a pista da discoteca Maharaja Roppongi, em Tóquio, no dia 29 de abril, para uma festa de solteiros com um quê nostálgico da era da bolha econômica japonesa. Mas o objetivo não era apenas reviver os velhos tempos, era também encontrar um novo amor.

O evento, organizado pela IBJ Inc., empresa especializada em serviços de matchmaking, destacou um fenômeno crescente no Japão: o aumento expressivo de pessoas com mais de 50 anos em busca de relacionamentos afetivos, nem sempre com fins matrimoniais. Muitos compareceram à festa simplesmente para fazer amizades ou reencontrar o prazer da convivência romântica, sem pressa ou pressão social.

Solteiros na faixa dos 50 e 60 anos dançam ao som de músicas dos anos 1970 e 1980 na Maharaja Roppongi, uma discoteca no bairro de Minato, em Tóquio. Eles participam de uma festa para encontrar futuros cônjuges. A imagem foi modificada por motivos de privacidade. (Créditos: Asahi/Suzuka Tominaga)

“Queria voltar no tempo”, disse uma mulher divorciada, na casa dos 60, que participou do evento de salto alto e vestido ousado. “Gosto de estar sozinha, mas seria bom ter alguém para ver de vez em quando.”

Outro participante, um homem de 60 anos, foi mais direto: “Quero alguém que cuide de mim quando eu envelhecer.” O medo da solidão, intensificado durante a pandemia de COVID-19, tem levado muitos a reconsiderar o casamento ou, ao menos, parcerias duradouras.

Mercado de namoro sênior em expansão

Esse crescimento está transformando o setor de namoro no Japão. A Akanekai, uma das mais tradicionais agências de relacionamento para maduros, com mais de 65 anos de história, tem cerca de 4.000 membros ativos, sendo a maioria entre 50 e 70 anos.

A empresa oferece atividades variadas como karaokê, meditação zazen, visitas ao Parlamento japonês e oficinas de tingimento com índigo, iniciativas que unem lazer e conexão emocional.

Uma festa para solteiros mais velhos começa com um bate-papo em grupo onde eles se apresentam. (Créditos: Asahi/Suzuka Tominaga).

Segundo Kentaro Kawakami, da Nihon Kenko Kanri (gestora da Akanekai), a mudança cultural tem impulsionado o setor. “O estigma sobre buscar o amor após os 50 diminuiu. Há mais mulheres independentes, e os divórcios aumentaram. Isso mudou o perfil dos nossos membros.”

Enquanto os mais velhos se sentem à vontade com encontros em grupo, como festas e atividades sociais, os que hoje estão nos 50 anos preferem encontros individuais, reflexo de experiências distintas em relação à economia e ao emprego.

Danceteria acompanha um bate-papo em grupo em uma festa de solteiros em uma discoteca no bairro de Roppongi, em Tóquio. (Créditos: Asahi/Suzuka Tominaga).

Aplicativos e dados demográficos fortalecem o setor

A tendência também chegou ao ambiente digital. O aplicativo R50Time, lançado em janeiro de 2023, viu suas assinaturas aumentarem mais de 10 vezes em um ano. Hoje, mais de 300 casais são formados diariamente pela plataforma.

O público é majoritariamente composto por pessoas nos 50 (51%) e 60 anos (31%), e a expectativa é de que mais apps do tipo entrem no mercado, já que sêniores estão mais abertos ao uso da tecnologia para encontrar parceiros.

Dados do governo japonês mostram que, em outubro de 2024, 33,18 milhões de pessoas com 50 a 69 anos representavam quase 27% da população total, o mesmo número de pessoas entre 20 e 44 anos. Dessas, 9,34 milhões estão solteiras, sendo:

  • 5,02 milhões nunca casadas
  • 3 milhões divorciadas
  • 1,32 milhão viúvas

Em três décadas, o número de solteiros nessa faixa etária mais que dobrou, refletindo as novas dinâmicas sociais e o fim do estigma sobre envelhecer sozinho, ou mesmo recomeçar o amor na maturidade.

Um disc jockey toca músicas populares dos anos 1980 para agradar a um público de solteiros veteranos familiarizados com as músicas daquela época. (Créditos: Asahi/Suzuka Tominaga)

Diante desse cenário, festas dançantes, clubes de interesse comum e aplicativos dedicados estão moldando um novo capítulo nas histórias afetivas dos japoneses mais velhos, mais livres, autênticas e determinadas por escolha, e não por convenção.

Com informações via Asahi