Japão enfrenta pressão de Trump por acordo comercial às vésperas de eleição e sob ameaça de tarifas

Trump ameaça impor tarifa de 25% a partir de 1º de agosto; Japão resiste a ceder na agricultura e tenta proteger setor automotivo durante eleição delicada.

As negociações comerciais entre Japão e Estados Unidos chegaram a um impasse crítico. O presidente americano Donald Trump reafirmou que imporá uma tarifa de 25% sobre produtos japoneses a partir de 1º de agosto, caso não haja acordo até lá. A ameaça ocorre em meio a uma campanha eleitoral sensível no Japão e acende um alerta sobre os impactos econômicos e políticos da disputa.

O primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba, que tenta preservar sua frágil coalizão no poder, enfrenta pressões internas e externas. Apesar de ter prometido investir US$ 1 trilhão nos EUA em sua primeira reunião com Trump, o gesto não bastou para garantir um acordo comercial. Agora, o governo japonês se vê encurralado entre proteger setores sensíveis, como o agrícola e o automotivo, e evitar pesadas sanções tarifárias.

Negociações travadas e críticas crescentes

Desde abril, o Japão vem tentando convencer os EUA a desistirem das tarifas, especialmente sobre automóveis, setor que representa cerca de 30% das exportações japonesas para os EUA e emprega 1 em cada 10 trabalhadores no país. Em troca, Tóquio ofereceu investimentos em energia e aço, mas se recusa a abrir mão de proteções agrícolas, principalmente sobre o arroz, tema explosivo entre os eleitores rurais.

Tarifa EUA Japão

O clima azedou quando Trump, nas redes sociais, acusou o Japão de ser “mimado” e relutante em comprar arroz americano, mesmo enfrentando escassez do produto. Para analistas, os comentários refletem a frustração crescente da Casa Branca com a falta de concessões japonesas.

Diplomacia em “nevoeiro denso”

As esperanças de um acordo até meados de junho, durante a cúpula do G7 no Canadá, foram frustradas. Segundo fontes próximas ao encontro, Trump se mostrou cansado e desinteressado, delegando as discussões aos ministros. Depois da reunião, Ishiba admitiu que havia “divergências claras de entendimento” entre os dois governos.

Ryosei Akazawa, ministro da Economia e braço-direito de Ishiba, lidera as negociações. Em discurso recente, ele disse que o Japão “não cederá no que é vital para o país”, mas admitiu que Washington decidiu “ir para o tempo extra” nas tratativas.

Mesmo com sete visitas a Washington desde abril, os avanços foram limitados. Uma autoridade japonesa comparou o cenário a um “nevoeiro denso”, e outro representante admitiu que o governo enfrenta dificuldade para apresentar novos incentivos antes do fim da eleição.

Eleições no Japão complicam cenário

O momento político não poderia ser mais delicado. O Japão realiza eleições para a Câmara Alta (Senado) em 20 de julho, e as pesquisas indicam que a coalizão governista pode perder a maioria, agravando a instabilidade. Ishiba esperava anunciar um acordo comercial antes da votação, mas retornou de sua reunião com Trump de mãos vazias.

O primeiro-ministro Shigeru Ishiba fala aos repórteres em 8 de julho. (Créditos Imagem: ASAHI / Takeshi Iwashita)

A oposição não perdeu tempo. O ex-premiê e atual líder do Partido Democrático Constitucional, Yoshihiko Noda, acusou Ishiba de “lento e ineficaz” e cobrou uma postura mais ativa nas negociações com os EUA. “Se você não agir, teremos que assumir o governo”, disse durante um comício.

O que está em jogo

A tarifa de 25%, que já teve parte implementada (com uma base de 10% desde abril), pode causar forte impacto na economia japonesa, afetando indústrias estratégicas e o mercado de trabalho. Tóquio propôs um modelo de redução de tarifas com base na contribuição japonesa à indústria automotiva dos EUA, mas até agora não obteve resposta positiva da Casa Branca.

Enquanto isso, a paciência do eleitorado japonês também se esgota. “Dado o resultado que tivemos, me pergunto para que serviram todas as negociações”, disse Hidetoshi Inada, 64, trabalhador do setor de telecomunicações em Tóquio.

Próximos passos

Com o prazo final de 1º de agosto se aproximando e a eleição no Japão marcada para 20 de julho, o espaço para manobra é mínimo. O Japão insiste em um acordo “que beneficie ambos os países, sem comprometer seus interesses nacionais”, mas o tempo está contra Ishiba, tanto na diplomacia quanto nas urnas.

Com informações do Asahi – Link 1, Link 2