Inflação ameaça tradição japonesa: restaurantes cancelam o “hiyashi chuka”, prato frio do verão

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Com aumento no custo de ingredientes e mão de obra, restaurantes japoneses param de servir macarrão frio chinês, símbolo da estação mais quente do ano.

O tradicional prato de verão japonês hiyashi chuka, ou macarrão chinês gelado, está desaparecendo de muitos cardápios no Japão. A inflação e o aumento nos custos de ingredientes e mão de obra estão forçando restaurantes a subir os preços — ou até mesmo cancelar a oferta do prato, que costuma ser muito esperado durante os meses quentes.

No restaurante chinês Bazoku, localizado perto da Estação JR Nippori, em Tóquio, o hiyashi chuka é servido todos os verões com ingredientes coloridos como pepino, ovo fatiado, carne de porco ao molho (char siu) e gengibre em conserva. “Não sinto que o verão chegou até comer isso”, diz um cliente de 45 anos de Chiba que visita o local todo ano.

Bazoku oferece quatro versões do prato, todas feitas com macarrão artesanal. Em média, o restaurante vende centenas de porções por dia durante o verão. No entanto, o preço vem subindo: de 950 ienes em 2022 (cerca de R$ 33), passou para 1.050 ienes em 2023, 1.200 ienes em 2024, e agora custa 1.300 ienes (cerca de R$ 45) em 2025.

Essa alta se deve principalmente ao aumento dos preços dos ingredientes. No dia 18 de julho, a carne de porco foi vendida a 948 ienes por quilo no Mercado Central de Atacado de Tóquio — o maior valor desde o ano 2000. Já os ovos médios custaram 328 ienes por quilo, acima da média de 224 ienes dos últimos cinco anos.

Além disso, preparar hiyashi chuka é mais trabalhoso do que pratos quentes como o ramen. Enquanto um ramen usa cerca de quatro ingredientes, o macarrão frio precisa de pelo menos dez, incluindo cortes precisos e uso diário de 70 a 80 quilos de gelo para resfriar o prato. Isso aumenta muito os custos com mão de obra.

“Não conseguimos parar de oferecer o prato facilmente por causa dos clientes fiéis, mas o custo e o trabalho são de duas a três vezes maiores que os pratos quentes”, diz Mitsutaka Mori, gerente do Bazoku.

Outros restaurantes, no entanto, já abriram mão do hiyashi chuka. O restaurante Senrigan, no bairro de Meguro, em Tóquio, publicou em março na rede X (antigo Twitter) que não iria oferecer o prato em 2025. Até o ano passado, ele era vendido por 1.150 ienes, mas os custos de vegetais e mão de obra fariam o preço subir para pelo menos 1.500 ienes neste verão.

“Mesmo com clientes pedindo para continuarmos, tivemos que abrir mão com pesar”, afirmou um representante do Senrigan.

Com isso, o hiyashi chuka, que por décadas simbolizou o início do verão no Japão, está sendo deixado de lado — mais uma tradição ameaçada pela pressão da inflação.