“Kokuho”, estrelado por Ryo Yoshizawa e Ryusei Yokohama, mistura arte tradicional, drama e yakuza e já arrecadou mais de 10 bilhões de ienes
Um filme de três horas sobre o tradicional teatro Kabuki está surpreendendo o mercado cinematográfico japonês. Intitulado “Kokuho”, que significa “tesouro nacional”, o longa já arrecadou mais de 10 bilhões de ienes (cerca de 68 milhões de dólares) e se tornou o segundo filme live-action japonês de maior bilheteria da história, feito não alcançado há mais de 20 anos.
Estrelado por Ryo Yoshizawa e Ryusei Yokohama, dois atores populares entre os jovens, o filme conta a história de dois artistas rivais e ao mesmo tempo almas gêmeas, ambos especialistas em papéis femininos no Kabuki, conhecidos como “onnagata”. Os atores passaram meses em treinamento com mestres reais do Kabuki para interpretar seus papéis com autenticidade.
Tradição, drama e beleza visual
O filme mistura temas tradicionais com elementos modernos: família, sacrifício, arte, violência e lealdade, além de fazer referência a filmes clássicos de yakuza e ao cinema ocidental, como “O Poderoso Chefão”. Um dos personagens principais é filho de um mafioso, o que conecta o enredo ao mundo dos gangsters.
Além da forte atuação, a fotografia do tunisiano Sofian El Fani (conhecido por “Azul é a Cor Mais Quente”) impressionou críticos e o público, com planos fechados que capturam a emoção dos atores, algo raro nas filmagens tradicionais de Kabuki, que costumam mostrar o corpo todo dos intérpretes.
Um sucesso cultural inesperado
O diretor Sang-il Lee, também conhecido pela série “Pachinko” e pelo premiado “Hula Girls”, afirmou que se emocionou ao ver pessoas de todas as idades assistindo ao filme com atenção total:
“Ali não havia barreiras de gerações. Todos estavam em busca daquele momento que toca a alma. É por isso que vale a pena fazer cinema.”
O filme também foi bem recebido em Cannes e já foi escolhido como o representante do Japão na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026. A lista dos pré-selecionados será anunciada em 16 de dezembro.
Em apenas 73 dias em cartaz, “Kokuho” foi visto por mais de 7,4 milhões de pessoas, muitos deles repetindo a experiência.
Reflexão sobre identidade e sociedade
Para muitos espectadores, o filme vai além da história do Kabuki. Ele reflete sobre o Japão moderno, sua identidade, e o sentimento de estar à margem — algo que ressoa com jovens e adultos.
“É sobre viver tão fiel a si mesmo que você arrisca tudo por isso”, disse Sara Akino, uma cantora que raramente vai ao cinema, mas se sentiu tocada.
“Parecia que eu estava assistindo a uma peça de teatro de alta qualidade. Os personagens são como luz e sombra”, comentou Hiroyuki Okada, professor de ikebana.
O filme também aumentou a procura pelo livro de dois volumes de Shuichi Yoshida, no qual é baseado. O autor trabalhou como assistente de palco em teatros Kabuki para escrever com autenticidade.