Cientistas japoneses criam esturjão fêmea a partir de macho e produzem caviar com sucesso

Pesquisadores da Universidade Kindai, em Wakayama, conseguiram coletar ovos e chocar filhotes de um esturjão siberiano que teve o sexo alterado artificialmente.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Kindai alcançou um feito inédito no país: conseguiu coletar ovos e chocar filhotes de um esturjão siberiano que teve o sexo alterado de macho para fêmea de forma artificial. O avanço pode trazer grandes mudanças para a produção de caviar no Japão.

A equipe trabalha na Estação de Pesquisa Aquícola da universidade, localizada na cidade de Shingu, em Wakayama. Eles anunciaram o resultado neste mês e o consideram um marco científico nacional. A descoberta será apresentada oficialmente em um congresso da Sociedade Japonesa de Ciências Pesqueiras, que ocorrerá na Universidade de Hiroshima no dia 24 de setembro.

Os cientistas responsáveis pelo projeto são o professor associado Toshinao Ineno, de 60 anos, e o professor assistente Ryuhei Kinami, de 43 anos. Segundo eles, o esturjão siberiano é a espécie mais comum no mundo para a produção de caviar, pois suporta bem variações na qualidade da água e começa a produzir ovos cerca de cinco anos após o nascimento.

No Japão, os produtores normalmente criam apenas esturjões fêmeas, identificadas ainda na fase jovem. Com o objetivo de aumentar a eficiência da produção, a equipe da Universidade Kindai iniciou, em 2019, um experimento inovador: após incubar ovos fertilizados importados da Alemanha, administraram hormônio feminino via oral aos alevinos (filhotes recém-nascidos), conseguindo transformar todos os machos em fêmeas.

Sete anos depois, foi confirmado que uma dessas fêmeas “transformadas” estava produzindo ovos. A análise de DNA comprovou que o peixe era, originalmente, geneticamente macho. O time conseguiu coletar cerca de 68 mil ovos desse esturjão, fertilizá-los e chocar alguns deles com sucesso.

Um dado ainda mais surpreendente foi descoberto após o nascimento dos filhotes: todos os exemplares analisados eram machos. Isso indica que os ovos de uma fêmea criada artificialmente a partir de um macho geram apenas descendentes machos – algo nunca registrado antes no mundo.

O trabalho é resultado de anos de pesquisa e criação contínua. Agora, os cientistas planejam dar continuidade ao estudo com o objetivo de desenvolver uma técnica para produzir apenas fêmeas desde o nascimento, o que pode aumentar significativamente a produtividade do caviar japonês.

Essa inovação pode tornar o Japão mais competitivo no mercado global de caviar, além de abrir portas para novas formas sustentáveis de criação de esturjões em larga escala.