Turismo bate recorde no Japão, mas superlotação em Kyoto leva escolas a buscarem novos destinos

Com mais de 28 milhões de visitantes até agosto, Japão vive boom turístico; escolas japonesas começam a evitar Kyoto em viagens de estudo por causa de congestionamentos e aglomerações.

O Japão ultrapassou a marca de 28 milhões de visitantes estrangeiros até agosto de 2025, segundo dados divulgados pela Organização Nacional de Turismo do Japão (JNTO). O número representa um aumento de 18,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, e é o ritmo mais rápido de crescimento já registrado.

Desde fevereiro de 2024, o país vem quebrando recordes mensais consecutivos. Em agosto, 3.428.000 turistas estrangeiros visitaram o Japão, superando pela primeira vez a marca de 3 milhões nesse mês.
Entre os principais emissores estão:

  • China: 1.018.600 visitantes (+36,5%)
  • Coreia do Sul: 660.900 (+8,0%)
  • Taiwan: 620.700 (+10,0%)

Segundo a JNTO, muitos dos turistas chineses são jovens entre 20 e 40 anos ou famílias.
O comissário da Agência de Turismo do Japão, Shigeki Murata, afirmou que o país pretende atrair visitantes recorrentes e turistas de alto poder aquisitivo, além de promover destinos regionais para aliviar a pressão sobre os grandes centros.

Escolas começam a evitar Kyoto por superlotação:

Enquanto o turismo internacional bate recordes, Kyoto enfrenta os efeitos da superlotação, especialmente em viagens escolares. A cidade, tradicionalmente o principal destino de excursões de escolas japonesas, começa a perder espaço para regiões alternativas.

A Escola Secundária Nishi-Ikebukuro, em Tóquio, decidiu trocar Kyoto e Nara por Shikoku após uma experiência frustrante em setembro de 2024. Durante o terceiro dia da viagem, os alunos foram divididos em grupos para visitar templos e santuários, mas ficaram presos no trânsito e não conseguiram cumprir metade dos roteiros planejados.

Os alunos chegam à Estação JR Kyoto em um trem especial fretado para sua viagem escolar em 8 de maio de 2024. (Imagem via ASAHI / Yoko Hibino)

Um dos grupos desistiu de pegar o ônibus próximo ao templo Kinkakuji por causa da aglomeração e caminhou 13 km até o santuário Fushimi Inari Taisha. O diretor da escola, Takashi Yahiro, relatou que os professores estavam exaustos e os alunos tiveram que cancelar visitas por falta de tempo.

Para a próxima viagem, a escola escolheu Shikoku, onde os alunos poderão participar de atividades práticas, como:

  • Preparar “katsuo no tataki” em Kochi
  • Fazer “udon” artesanal em Kagawa

A mudança foi bem recebida pelos pais. Uma mãe de aluna disse que se preocupa com os efeitos do calor e das filas em Kyoto, e que vê em Shikoku uma oportunidade de experiências mais tranquilas e educativas.

Novos destinos ganham espaço:

Segundo a Associação de Viagens Escolares do Japão, Kyoto foi o destino mais popular entre alunos do ensino fundamental por sete anos consecutivos (2018–2024), com Nara em segundo lugar.
Mas o número de estudantes que visitaram Kyoto caiu 7,4% em 2024, totalizando 750 mil, contra 810 mil em 2023.

A encosta Kiyomizuzaka que leva ao templo Kiyomizudera, no bairro Higashiyama de Kyoto, fica lotada de turistas em 5 de abril. (Imagem via ASAHI / Yasuro Suzuki)

Além da superlotação, o aumento de viagens escolares internacionais após a pandemia também contribui para essa mudança. Destinos como Kanazawa (Ishikawa) e Hakodate (Hokkaido) estão sendo considerados por escolas da região metropolitana de Tóquio.

Kanazawa oferece acesso rápido via Hokuriku Shinkansen e atrações como o jardim Kenrokuen, com visitas guiadas por alunos locais. Hakodate, por sua vez, é uma cidade compacta com sistema de bondes, ideal para grupos escolares.

O custo médio de uma viagem escolar doméstica subiu de 61.206 ienes (US$ 413) em 2018 para 67.844 ienes em 2024, segundo a associação. Com isso, algumas prefeituras estão limitando gastos ou reduzindo o número de pernoites para aliviar a carga sobre os professores.

Apesar das dificuldades, o diretor Yahiro defende a importância das excursões:

“É necessário que os alunos desenvolvam habilidades de planejamento e cooperação. Vejo as viagens escolares como o objetivo final da educação obrigatória.”

Com informações via Asahi Shimbun – Link 1, Link 2