Cantora japonesa Tokiko Kato emociona público em Harbin com mensagem de paz 80 anos após o fim da guerra

Nascida na China em 1943, a artista retornou à cidade pela primeira vez em 44 anos e foi ovacionada ao cantar “Imagine”, de John Lennon, em um concerto que celebrou amizade e reconciliação entre Japão e China.

A veterana cantora japonesa Tokiko Kato, de 81 anos, emocionou o público em Harbin, no nordeste da China, ao cantar “Imagine”, de John Lennon, durante um concerto especial realizado no fim de agosto. O evento marcou o retorno da artista à sua cidade natal após 44 anos e transmitiu uma forte mensagem de paz e reconciliação, 80 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Kato nasceu em Harbin em 1943, quando a região fazia parte da então Manchúria ocupada pelo Japão. Sua apresentação, acompanhada por uma orquestra sinfônica local, incluiu também canções como “Hymn to Love”, sucesso de Édith Piaf, e “Distant Homeland”, uma música composta pela própria artista sobre suas memórias de Harbin e a fuga de sua família após o fim da guerra.

“Sinto tristeza por perceber que, 80 anos depois do fim da guerra, o mundo ainda não está em paz”, disse Kato após o show. “Quero que Japão e China sejam líderes na construção de um mundo pacífico.”

O público, de mais de mil pessoas, respondeu com fortes aplausos, especialmente durante “Imagine”. Muitos espectadores disseram sentir a sinceridade da mensagem da cantora. Uma estudante local de 16 anos afirmou que desejava uma amizade duradoura entre os dois países, enquanto a moradora Chen Wei, de 50 anos, destacou o papel do concerto na promoção do intercâmbio cultural.

Entre os convidados estavam também a filha de Kato, Yae, cantora e compositora, e a renomada produtora musical Yoko Kanno, conhecida por trilhas de animes. A jovem artista Nozomi Lyn, de 24 anos, com raízes japonesas e chinesas, também se apresentou, cantando em japonês, chinês e inglês, simbolizando o elo entre as novas gerações.

A realização do concerto ocorreu em um momento politicamente delicado, pouco antes de um desfile militar em Pequim em 3 de setembro, que marca a vitória da China na guerra contra o Japão. O evento aconteceu em meio a um aumento do sentimento anti-japonês, impulsionado por filmes e documentários sobre o período da ocupação japonesa, incluindo produções sobre a Unidade 731, centro de pesquisa militar que operava em Harbin.

Na véspera do concerto, Tokiko Kato refletiu sobre seu passado:

“Nasci em Harbin, e isso é algo com que convivo por toda a vida. Penso sobre por que o Japão iniciou uma guerra e quero que exista amizade verdadeira entre japoneses e chineses.”

A viagem foi também um reencontro familiar com o passado. O irmão mais velho da cantora, Mikio Kato, de 87 anos, contou que sua mãe levou os filhos de volta ao Japão em 1946, fugindo de Harbin em meio ao caos do pós-guerra e à invasão soviética. O pai, Koshiro Kato, que servia no exército japonês, só reencontrou a família em 1947. Mais tarde, ele abriu em Tóquio um restaurante russo batizado com o nome de um rio de Harbin — e pediu que suas cinzas fossem espalhadas lá após sua morte, em 1992.

O concerto terminou em clima de emoção e reconciliação, com Kato afirmando ter finalmente recebido a resposta que buscava há décadas:

“Eu queria saber se podia chamar Harbin de minha cidade natal. Hoje, acredito que o povo respondeu: ‘Sim, você pode’.”

Com sua voz e mensagem, Tokiko Kato transformou uma noite de música em um gesto simbólico de paz e perdão, mostrando que as feridas da história podem dar lugar à amizade entre os povos.