Conhecida como a “ilha dos gatos”, Chipre tenta conter uma população felina que já se iguala ao número de habitantes; governo triplica verba para esterilizações e promete plano nacional.
A famosa “ilha dos gatos” vive agora um grande problema felino. O pequeno país mediterrâneo de Chipre enfrenta uma superpopulação de gatos de rua que, segundo autoridades, já se iguala ao número de habitantes — cerca de 1 milhão. Ativistas, porém, acreditam que o número real de felinos é ainda maior, podendo chegar a centenas de milhares acima da estimativa oficial.
Durante uma reunião do Comitê Parlamentar de Meio Ambiente, em setembro, autoridades reconheceram que o atual programa de esterilização é insuficiente. Apenas 2 mil gatos são esterilizados por ano, com um orçamento de 100 mil euros, valor considerado muito baixo para conter o crescimento populacional.
“O programa é bom, mas precisa ser ampliado”, afirmou a comissária ambiental Antonia Theodosiou, ressaltando que o país ganhou fama por ter uma das maiores populações de gatos por habitante do mundo.
Em resposta às críticas, a ministra do Meio Ambiente, Maria Panayiotou, anunciou em 4 de outubro, no Dia Mundial dos Animais, que o governo triplicará o orçamento anual de esterilização para 300 mil euros. A medida foi comemorada por ativistas, mas especialistas alertam que dinheiro sozinho não basta.
“Não podemos apenas esterilizar sem ter um plano”, disse Charalambos Theopemptou, presidente do comitê parlamentar.
🐱 Um desafio ecológico e social
Além do impacto na biodiversidade local, o excesso de gatos causa problemas de saúde e segurança, já que muitos animais vivem nas ruas, próximos a carros e áreas turísticas. Ao mesmo tempo, os felinos são parte da identidade cultural e histórica de Chipre.
Escavações arqueológicas revelaram que o país pode ter sido um dos primeiros lugares do mundo a domesticar gatos, há cerca de 9.500 anos. Segundo a lenda, Santa Helena levou navios cheios de gatos para a ilha no século IV para combater uma infestação de cobras. Até hoje, o Mosteiro de São Nicolau dos Gatos serve como abrigo para dezenas de felinos.
Com o turismo sendo uma das principais fontes de renda da ilha, os gatos se tornaram atrações populares entre os visitantes, que frequentemente os alimentam em restaurantes e praças. Isso, porém, favorece a reprodução descontrolada.
🧩 Planos e soluções
De acordo com Demetris Epaminondas, presidente da Associação de Veterinários de Chipre, o crescimento desordenado se deve à falta de esterilização em larga escala e à sobrevivência maior de filhotes, graças aos cuidados informais de moradores. Ele acredita que a situação pode ser controlada em até quatro anos, se houver um plano coordenado e acessível.
O plano proposto pela associação inclui:
Criação de centros de esterilização gratuitos em clínicas particulares;
Um aplicativo de celular para registrar e localizar grandes concentrações de gatos;
Parcerias com grupos de proteção animal e doações privadas para dividir os custos.
Atualmente, esterilizar uma gata de rua custa 55 euros, enquanto o procedimento em gatos domésticos chega a 120 euros.
A comissária Theodosiou afirmou que o governo está trabalhando em uma estratégia de longo prazo, que pretende envolver prefeituras, ONGs e voluntários para realizar um censo felino nacional e autorizar oficialmente abrigos particulares de gatos.
“Há soluções”, disse Eleni Loizidou, líder da organização voluntária Cat Alert, que recentemente capturou e esterilizou quase 400 gatos no centro de Nicósia. “Mas precisamos de mais apoio e coordenação.”
Enquanto o plano ainda é discutido, Chipre continua sendo fiel à sua fama: uma ilha onde os gatos estão por toda parte — símbolo de sua história, cultura e agora, de um desafio que o país precisa enfrentar com urgência.