Mãe de Tetsuya Yamagami pede perdão em julgamento pelo assassinato de Shinzo Abe

Testemunha no tribunal de Nara, mãe do acusado relata doações à Igreja da Unificação e pede desculpas à família Abe e ao povo japonês

A mãe de Tetsuya Yamagami, acusado de matar o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe em 2022, pediu desculpas pelo crime cometido por seu filho durante depoimento no Tribunal Distrital de Nara, em 13 de novembro. O testemunho ocorreu no início da fase de apresentação de provas da defesa.

“Ofereço minhas mais sinceras desculpas pelo terrível crime cometido pelo meu segundo filho, Tetsuya”, disse ela, falando em voz baixa e emocionada. A mãe também afirmou ainda acreditar na Igreja da Unificação — organização que, segundo investigadores, teria influenciado o motivo do crime devido às grandes doações que ela realizou ao grupo.

A sessão começou pouco depois das 16h, com um painel colocado entre o público e a testemunha para preservar sua identidade. De acordo com a defesa, essa foi a primeira vez que Yamagami viu sua mãe desde o ataque de 2022. O acusado ouviu o depoimento com a cabeça abaixada, apoiando o cotovelo na mesa.

Antes de ser questionada, a mãe pediu para fazer uma declaração: “O ex-primeiro-ministro Abe talvez esteja aqui (simbolicamente). Ofereço meu sincero pedido de desculpas a ele, à senhora Akie e ao povo deste país.”

Contexto familiar e envolvimento com a igreja

A mãe relatou uma série de acontecimentos difíceis na família: o pai de Yamagami sofria de depressão e alcoolismo e cometeu suicídio quando o acusado tinha quatro anos. O filho mais velho também enfrentou problemas graves de saúde, perdendo a visão de um olho.

Foi nesse período que um seguidor da Igreja da Unificação visitou sua casa. A partir desse contato, ela passou a frequentar atividades do grupo, tornando-se membro em 1991. Logo após aderir à igreja, realizou doações de 20 milhões de ienes e, meses depois, mais 30 milhões. Ao longo dos anos, suas contribuições chegaram a cerca de 100 milhões de ienes, financiadas com seguro de vida do marido, venda de bens da família e até do imóvel onde morava.

Questionada pela defesa sobre por que continuou doando mesmo com dificuldades financeiras, respondeu: “Achei que haveria algum jeito. Achei que as doações eram mais importantes do que meu filho ir para a faculdade.”

A mãe também contou que viajou repetidas vezes à Coreia do Sul para eventos da igreja, deixando os filhos sob os cuidados do avô, que chegou a se desculpar dizendo: “Eu a criei da maneira errada.”

Reações e próximos passos

Yamagami ouviu o depoimento em silêncio e com expressão abatida. Sua mãe voltará ao tribunal em 18 de novembro para continuar prestando esclarecimentos.

Antes do depoimento dela, a promotoria leu uma declaração de Akie Abe, viúva de Shinzo Abe. Ela afirmou que acreditava que teria mais tempo ao lado do marido e que “apenas queria que ele continuasse vivendo”.