Cidades dos EUA adotam inteligência artificial para mapear riscos e melhorar a segurança nas estradas

De câmeras em carros no Havaí a varreduras digitais no Texas, tecnologia ajuda a identificar buracos, guardrails danificados e sinais antigos

À medida que as estradas dos Estados Unidos envelhecem e acumulam necessidades de manutenção, governos estaduais e municipais estão recorrendo à inteligência artificial para localizar problemas com mais rapidez e definir prioridades de reparo.

No Havaí, autoridades estão distribuindo 1.000 câmeras veiculares para motoristas como parte da campanha “Eyes on the Road”. Os equipamentos usam IA para inspecionar diariamente guardrails, placas, marcações no asfalto e outros itens de segurança, diferenciando falhas simples de situações emergenciais que exigem equipes de manutenção imediata. O projeto já havia sido testado em 2021, mas foi interrompido após os incêndios florestais no estado.

A iniciativa busca combater o aumento nas mortes no trânsito. Em outubro, o Havaí registrou sua 106ª morte em 2025, superando o total de 2024. Um caso emblemático ocorreu em 2020, quando um motorista morreu ao bater em um guardrail danificado que não havia sido consertado por 18 meses — situação que resultou em um acordo judicial de US$ 3,9 milhões.

IA também ganha espaço em outras cidades

Em San Jose, Califórnia, câmeras instaladas em caminhões de limpeza de rua identificaram buracos com 97% de precisão. A cidade decidiu ampliar o uso da tecnologia para veículos de fiscalização de estacionamento. O prefeito Matt Mahan defende que cidades compartilhem imagens e dados em um grande banco de IA, permitindo que sistemas reconheçam problemas que já apareceram em outros lugares. A iniciativa está sendo organizada pela GovAI Coalition, que reúne governos de vários estados.

Texas aposta em câmeras e dados de celulares

O Texas, que possui mais quilômetros de pistas que os dois maiores estados seguintes somados, iniciou um grande programa de IA que usa câmeras e dados de celulares de motoristas que aderem ao sistema. A tecnologia ajuda a detectar comportamentos de risco e localizar sinais antigos ou danificados. Recentemente, o estado analisou 250 mil milhas de pistas para identificar placas instaladas há mais de uma década e que precisavam de substituição.

Outra ferramenta usada por diversos estados é o StreetVision, que coleta dados de frenagens bruscas para entender onde a infraestrutura está causando riscos. Em um caso mencionado por especialistas, o software mostrou um ponto com frenagens excessivas em Washington, D.C. A causa era simples: um arbusto escondia uma placa de pare. A solução foi apenas aparar a planta.

Caminho para veículos autônomos

Especialistas avaliam que as iniciativas atuais são apenas o início de uma nova era de manutenção viária. Com o avanço dos veículos autônomos, a tendência é que grande parte dos carros saia de fábrica equipada com câmeras, criando uma rede contínua de dados sobre o estado das estradas.

Segundo Mark Pittman, CEO da Blyncsy, empresa envolvida no programa do Havaí, “quase todos os veículos novos terão câmeras dentro de oito anos”. Ele afirma que departamentos de transporte precisam começar a preparar infraestrutura que funcione tanto para motoristas humanos quanto para sistemas automatizados.

Com a IA, estados e cidades buscam acelerar reparos, reduzir acidentes e criar estradas mais seguras — até que, no futuro, a própria frota de veículos ajude a monitorar e manter as vias em tempo real.